terça-feira, 10 de dezembro de 2013

SOBRE CONCHAS E PÉROLAS

Por Patrícia Leite




O relógio que registrava a contagem regressiva já tinha sido disparado...Tudo começava a ganhar corpo. Projetos e planos reafirmados e confirmadíssimos. Ao abrir a garrafa de vinho tinto, um brinde veio ao pensamento:

Ao nosso lar flutuante, porque em cinco anos o mar será nossa casa.

E ergueram as taças.

-- Tim...Tim...

Uma chuva fina impregnava as narinas com o cheiro de terra molhada. A lenha estalava na lareira e o barulho da chuva casava bem com a voz de fundo de Frank Sinatra.

Enquanto saboreavam o liquido rubro e enebriante, resolveram que abririam juntos a concha que ela trouxera do Caribe e que lado a lado verificariam que pérola estava escondida ali.

Abriram a caixa com cuidado e observaram que no estojo em que vinha a concha havia também um colar prateado e um cesto que serviria como um pendente onde a pérola deveria ser depositada.

O suspense do que estava por vir, até aquele instante, ficava em torno da cor da pérola. Se fosse branca significaria saúde. Se fosse dourada, representaria riqueza. Se fosse negra, sabedoria. Se fosse a creme, representaria a felicidade... Mas se fosse rosa, o amor.

Que cor teria a pérola???

Independentemente da cor que a pérola tivesse, no fundo, ambos sabiam que ali havia um acordo selado. Uma promessa de futuro. Um sonho a realizar. E aquela pérola era apenas uma representação simbólica de tudo isso. Mas foi com surpresa que constaram que a cor era rosa.

Pérola rosa...amor...

Os olhares trocados e o beijo carinhoso dizia tudo. As palavras se tornaram absolutamente desnecessárias. A linguagem, a comunicação dispensou as palavras.

Ambos tinham trilhado caminhos "solitários", apesar de estarem sempre acompanhados. Investiram em sonhos que pareciam loucura, tropeçaram, caíram.

Na bagagem individual traziam de tudo um pouco. Alegrias, tristezas, remorsos, culpas, dessabores, amores, transformações e uma coleção de pedras que removeram do caminho para poder seguir em frente.

Pedras...Caminho...

Neste instante, foi impossível não pensar que a pérola é o resultado de uma defesa das ostras em reação a corpos estranhos que invadem o seu organismo. Impossível não pensar que apenas um grão de areia, por exemplo, pode provocar uma inflamação na ostra e que ela para se proteger recobre o grão com sucessivas camadas de madrepérola. E que ao resultado desta capa de proteção chamamos pérola.

Uma jóia... Um tesouro...

Ela ficou com o colar com um pendente vazio. Ele ficou com a pérola. Cada um com uma parte da joia. Juntar os dois objetos significaria dizer que a hora havia chegado, que nada os demoveu de seu destino durante o caminho.

Um sonho...Este era o nosso tesouro... Era hora de ser feliz...


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