quinta-feira, 17 de junho de 2021

#Precipícios

Por Patrícia  Leite

Foto: Maranhão Viegas











Vieram me perguntar como é te amar, meu Preto. Tentei e vou seguir tentando dizer como é...  Afinal, tenho todo o resto da minha vida para tentar. Não é mesmo? 


Te AMAR é...

Como a vertigem de estar na beirada… Jogada no melhor palmo de terra fértil para a minha louca poesia… Você é lugar seguro. Delírio. Êxtase. Olhar suspenso no belo, aprisionado na retina…


Te AMAR é... 

Mais que respiração ofegante e entrega…É corpo no solo, é pé no chão… É sonho.


Te AMAR é... 

Plural... são voos. Asas batendo ligeiras e ficando também estáticas enquanto nossos sentimentos ficam a planar nos espaços de alegria. 


Te AMAR é...  

Nadar em azuis — Céu e água e pétalas de flores selvagens e penas de passarinhos.


Te AMAR é... 

O sincronismo na remada, a passada ritmada, é ficar descabelada, pisar em trilhas de estrelas… Estrada ladrilhada. 


Te AMAR é... 

Sentir paz, mesmo que os tempos sejam difíceis.





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quarta-feira, 9 de junho de 2021

CURTINDO AS PEDRAS DO CAMINHO

Por Patrícia Leite [6.6.2021]

Foto: Maranhão Viegas















Não tenho me movido de casa para a rua com a mesma frequência com que eu fazia nos tempos não pandêmicos. Aliás, há 15 meses, trabalho remoto e só saio para fazer o estritamente necessário ou para cumprir ordens médicas. 


Assim como grande parte das pessoas que eu conheço, adotei centenas de protocolos para me manter segura até que a vacina pudesse chegar e que,  por meio de uma agulhada, o líquido milagroso fosse inoculado no músculo de um dos meus braços e finalmente começasse a circular dentro do meu corpo me protegendo. Mas o tempo do meu desejo nunca foi compatível com o tempo real.


Sigo me cuidando e quem me conhece sabe... Por precaução não tenho visitado parentes ou visto amigos. Engaiolada, em 35 metros quadrados, fui buscando alternativas seguras para voar. Mas, de uns tempos pra cá, já estava até achando desculpas para ir levar o lixo na lixeira mais vezes ao dia do que o necessário... Só pelo simples prazer de cruzar a soleira da porta e descalçar os chinelos de ficar em casa e calçar os “chinelos de rua”.


Livros, filmes, fotos e passeios virtuais são os meus atuais “calçados de sair”...  Memórias também me levam frequentemente para a estrada e, nas asas das lembranças, de repente, estou no mundo. 


Mas são as nossas eventuais caminhadas reais, ao alvorecer ou ao entardecer — dependendo do dia da semana —, que me devolvem a paz interior e um doce sentimento de pertencimento.  


Somos, de verdade, seres de interações e de movimento. Não tenho dúvida. Por crer nisso, não posso me furtar de dizer que — apesar das incríveis viagens do pensamento —,  é no contato com as coisas mais simples que eu me sinto plena. É uma questão de curtir miudezas, inclusive as pedras do caminho. 


Pequenos detalhes de liberdade pululam por todo lado nas raras vezes que saio e não escapam de meus olhos atentos. Guardo como se fosse um tesouro particular. 


Para conquistar minhas “joias” basta observar, por exemplo, as nossas botas — as minhas e as de Preto —, roçando desavergonhadamente os brilhantes fragmentos de cristais de rocha espalhados pela trilha ou simplesmente perceber as nossas roupas respingadas de barro, notar nossas meias encardidas ou a lama na nossa pele e nas nossas mochilas...  


Todo esse conjunto de minúcias faz com que eu me sinta livre. É o meu íntimo e valioso relicário pessoal. Mesmo com parte do rosto coberto por máscaras e mesmo que seja por um breve instante lá fora, eu sinto o prazer e o gosto da liberdade... Estou de volta ao natural e isso me basta, por agora.


Colocar olhos atentos  ao que eu gosto de chamar de obviedades do dia a dia me fazem verdadeiramente me sentir mais pulsante, com o coração disparado no peito, com a respiração ofegante. Não posso mentir, estou sempre com o olhar na linha do horizonte pedindo mais...mais... e mais... Todavia, estou há muito tempo trancafiada e qualquer escapadinha me diverte.


De repente, me vi com pequenas e grandes saudades... Saudades de dar uma topada, de tropeçar, de escorregar, de cair... E de rir de mim mesma, das minhas “pataquadas”... 


Saudades de curtir descidas escorregadias, penhascos, buracos...Saudades das ínfimas desordens da vida... Saudades...


Por vezes, a saudade se veste de tristeza. Não posso negar. E, por ordens médicas, voltei a sair e a buscar a alegria de me reconectar. 


Tenho feito longas caminhadas para tomar sol, reduzir o colesterol e a glicose, baixar o peso — preciso revelar que ganhei 12 quilos durante esse período de privação de liberdade e está difícil perder. 


As taxas metabólicas piraram completamente com o confinamento e as dores resolveram tomar posse do meu corpo.  Ao levantar da cama me pego fazendo queixas em voz alta. É  um  tal de dói aqui e dói ali sem fim.  


Minha sogra e meu sogro também não saem de casa pelo mesmo tempo que eu, mas não se reclamam de nada.  Me repreendo. Não deveria me queixar. Eles são mesmo um exemplo de sabedoria. 


Os dois já conseguiram tomar as duas doses da vacina contra o Coronavírus, mas seguem guardados em casa, no RANCHO DA MONTANHA. Seguros esperando esses tempos sombrios passarem. Claro que estão ansiosos esperando o dia em que todos os filhos e netos estarão vacinados e podendo circular a vontade e sem medo. 


Por lá, no rancho deles, tem de tudo um pouco, alegria não falta. Tem mexerica, limão, abacate, mamão, graviola, caqui e temperos de toda ordem. Mas mais do que frutas, hortaliças e verduras, lá tem prosa boa e liberdade. Como eu gosto de ir lá. É o meu refúgio.


Me lembro da primeira vez, durante a pandemia,  em que eu coloquei meus pés na casa deles. Cumprimentos com os cotovelos, máscaras, álcool em gel, chinelos limpos e desinfetados para serem calçados ao sair do carro... Tudo dentro dos conformes para que todos seguissem em segurança.


Mal sai do carro corri para o quintal. Queria muito colocar os pés na terra, na grama verdinha e orvalhada e andar vagarosamente entre as flores do jardim de Dona Isabel, minha sogra, e a quem carinhosamente eu chamo de RAINHA MÃE.


Há muito, em benefício da verdade, chamo o Rancho da Montanha de PALÁCIO DE BELckingham, uma piada interna que faz parte das nossas brincadeiras e dos nossos encontros virtuais e presenciais. Sempre pergunto: Como foi o dia aí no “Palácio Belckingham”?? E caímos todos em uma sonora gargalhada.


E foi por lá – nos jardins do Palácio –, entre brincadeiras e risos, que tive a sensação de estar verdadeiramente livre novamente, apesar de estar impregnada com a neurose imposta pelos novos protocolos sanitários instituídos para nos proteger da pandemia de COVID-19. 


Me lembro como se fosse hoje. Eu e a rainha mãe passeando pelo jardim, molhando as flores, colhendo frutos, enquanto seu Viegas, meu sogro, preparava um churrasco com meu Preto. 


Nunca vou me esquecer do aroma de tomilho e alecrim, recém colhidos na horta, e de como essas especiarias estavam sendo usadas para defumar a carne. Ainda consigo sentir o fino buquê de ervas  se misturando com o cheiro das flores e da terra molhada.


Até hoje, quando fecho os olhos e me lanço nessas lembranças, sinto essa explosão olfativa, sinto esses sabores... Mistura que cheira a alegria e liberdade. Pedra fundamental da vida.


Hoje, não foi diferente. Sem querer, deixei cair das mãos um pacote de sal grosso. O chão ficou repleto de pedrinhas... Não resisti, cerrei os olhos, andei descalça sobre os cristais e lá estava eu novamente envolta em memórias,  caminhando livre, curtindo as pedras do caminho... 






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