Por
Patrícia Leite
A vida, às avessas,
parecia um parque de diversões. Uns dias eram como uma gangorra
lenta e barulhenta que seguia o movimento de subir e descer rangendo
as dobras de suas próprias ferrugens. Tudo era puro desgaste.
Noutros, assombrada
por seus temores mais íntimos, se permitia ser carregada em um dos
velhos vagões empoeirados do trem fantasma.
Nas trocas
promovidas pela lua e pelo sol, na incansável sucessão de noites e
dias, ensimesmada, assistia filmes da própria vida, em 3D, de frente
para aquela tela 180° que contava outras histórias que não as
suas.
O espírito
aventureiro clamava por uma adrenalina extra que a fizesse se sentir
viva e a montanha-russa que deslizava ligeira, em looping,
desenhava ao longe o grande “E” de EXULTAR. Aquela pequena
palavra que não saia de sua mente e que a alma valente reclamava.
Tudo era um misto de
sombra e silêncios, uma espécie de luz que dormitava sob a lona do
circo da verdade. Falseamento do real, pensou. O imaginário alheio
ganhou proporções assustadoras.
Aquela singular
plateia fazia seu papel. Encenou seu melhor disfarce. Se vestiu de
feliz e foi ao show. Os lábios fingiam sempre um sorriso. Mas os
olhos teimavam em desmentir a alegria forjada.
O palhaço, do alto
do picadeiro, sorriu de volta para ela... Ele também estava
acostumado a fingir sorrisos. Reconheceu a farsa. Lançou-lhe um olhar acusador. Sua tristeza era
tão densa que era possível tocá-la.
Não há nada que
mude o passado. Não há garantias no jogo da vida. Sempre haverá
batalhas perdidas. Mas sempre haverá batalhas ganhas.
Viver é estar na
corda bamba e se equilibrar. É ser bala de canhão e não morrer e
não matar. Viver é estar no globo da morte e não deixar o que está
a sua volta parar de girar.
Bateu o martelo
sobre a mesa: – A vida é feita de muitas voltas. Viver é lutar,
perder e ganhar. Viver é um eterno estado de ser e estar. Viver é
exultar.