terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

SENTENÇA FAVORÁVEL





Por Patrícia Leite

A vida, às avessas, parecia um parque de diversões. Uns dias eram como uma gangorra lenta e barulhenta que seguia o movimento de subir e descer rangendo as dobras de suas próprias ferrugens. Tudo era puro desgaste.

Noutros, assombrada por seus temores mais íntimos, se permitia ser carregada em um dos velhos vagões empoeirados do trem fantasma.

Nas trocas promovidas pela lua e pelo sol, na incansável sucessão de noites e dias, ensimesmada, assistia filmes da própria vida, em 3D, de frente para aquela tela 180° que contava outras histórias que não as suas.

O espírito aventureiro clamava por uma adrenalina extra que a fizesse se sentir viva e a montanha-russa que deslizava ligeira, em looping, desenhava ao longe o grande “E” de EXULTAR. Aquela pequena palavra que não saia de sua mente e que a alma valente reclamava.

Tudo era um misto de sombra e silêncios, uma espécie de luz que dormitava sob a lona do circo da verdade. Falseamento do real, pensou. O imaginário alheio ganhou proporções assustadoras.

Aquela singular plateia fazia seu papel. Encenou seu melhor disfarce. Se vestiu de feliz e foi ao show. Os lábios fingiam sempre um sorriso. Mas os olhos teimavam em desmentir a alegria forjada.

O palhaço, do alto do picadeiro, sorriu de volta para ela... Ele também estava acostumado a fingir sorrisos. Reconheceu a farsa. Lançou-lhe um olhar acusador. Sua tristeza era tão densa que era possível tocá-la.

Não há nada que mude o passado. Não há garantias no jogo da vida. Sempre haverá batalhas perdidas. Mas sempre haverá batalhas ganhas.

Viver é estar na corda bamba e se equilibrar. É ser bala de canhão e não morrer e não matar. Viver é estar no globo da morte e não deixar o que está a sua volta parar de girar.


Bateu o martelo sobre a mesa: – A vida é feita de muitas voltas. Viver é lutar, perder e ganhar. Viver é um eterno estado de ser e estar. Viver é exultar.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

ANSIEDADE ACÚSTICA





Por Patrícia Leite

Procuro no silêncio as respostas que as palavras não propagam, não explicam.
E é na ausência dos sons que negocio respostas que gritam incertezas.

Nestes instantes, em que as ondas sonoras não se propagam, é que percebo os intervalos necessários para que a mente voe e peça pressa para se fazer entender.

O silêncio machuca. Dói como solidão de palavras que não se expressam.

Mas as palavras sempre cessam. E é no absoluto desta ausência que o sangue corre ligeiro nas veias e o louco bate-bate do coração torna-se ensurdecedor.

Tudo é sofrida acústica inaudita... Pois que palavras que não são libertadas são elementos que impulsionam agonia.

No espaço livre, entre os sons e o silêncio, a intensidade de energia da onda do trágico se faz presente.

Nada do que não foi falado diminui a necessidade do debate interno. Porque a barreira do som não pode ser quebrada a partir da verborragia do silêncio?

Talvez, porque até no silêncio é preciso que haja trocas. Ninguém responde pelo outro... Apesar de o silêncio também trazer respostas.