sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Verdades & Mentiras

Por Patrícia Leite

O amor que vivi – mesmo depois de comprovado que o outro nada sentia, que tudo nele era farsa, era apenas fingimento –, é absolutamente verdadeiro e sincero em tudo que em mim produziu de realidade.

Realidade? Mas o que é realidade?? Ao que tudo indica, realidade é apenas uma angulação. Um ponto de observação que pode ser visto com calma ou com pressa. E que pode sofrer distorções com o passar do tempo.

Para evitar atropelamentos e acidentes desnecessários, decidi seguir pela estrada da lentidão. Assim como uma folha que se move com a brisa e segue sem rumo ao sabor do vento, pousando e pausando aqui e ali.

Ando devagarinho porque tenho muito para ver e viver, porque amo detalhes... Ando devagarinho, porque em muitos momentos preciso de pausas, de compassos suspensos de pequenas ausências de ar: contratempos positivos da respiração.

Ando ofegante de alegria, em momentos repletos de êxtases, nos intervalos do corre-corre. E nesse semi-tempo de ir, vez por outra, apenas me sento sobre a areia ainda morna do dia para ver quebrar as ondas do mar. Sentir seu cheiro...

Perco a respiração, sem ser de cansaço, quando me deito sob as estrelas, nas noites de lua cheia e me lembro de que a única pressa que devo ter é a pressa de ser feliz. E esta pressa requer um certo caminhar "vagaroso" próprio de quem quer reter minúcias.

Na retina vou apreendendo apenas imagens que a máquina fotográfica não foi capaz de captar. Cenas que a memória precavida monta guarda para assegurar em um lugar especial dentro dos arquivos da lembrança.

Memórias, verdades e mentiras...

Há verdades singulares em mulheres que trazem na respiração uma vastidão de informações que foram inscritas, com o decorrer do tempo, em suas almas.

Suas verdades e suas vidas inspiram poemas , crônicas, músicas. Produz canto em gargantas despreparadas. Afinam vozes desafinadas. 

Sim, há mulheres que se perpetuam por transpirar  e transgredir alegrias inventadas. 

Há mulheres capazes de dar gargalhadas que transcendem o momento do riso frouxo para se eternizarem na prosa dos amigos. Mulheres que sabem rir das mentiras que lhe foram contadas e de suas vidas falseadas.


Há mulheres que descobriram que a distância e a diferença entre fatos, verdades e mentiras é marcada apenas por uma linha divisória muito tênue e que, por vezes, demarcam lados absolutamente opostos de uma mesma realidade temporal.

Há mulheres que perceberam que verdades e mentiras podem ser apenas uma visão embaçada do que parecia ser uma mesma história de vida compartilhada.

Há ainda mulheres que trazem nos olhos verdades que nasceram das mentiras de seus homens. E ainda assim são verdades.

Porque a verdade, no fim das contas, não está no gênero de quem a vive. A verdade é o sentimento que foi produzido em nós diante da nossa própria crença de que tudo era verdadeiro.

Portanto, há também por aí homens que vivem explorando verdades falsificadas. No fundo, entre verdades e mentiras, há pelas estradas pessoas produzindo sonhos piratas para si e para o outro. Não por maldade, creio eu. Mas por acreditarem ser possível transformar o irreal em algo de que sejamos parte.