sexta-feira, 31 de outubro de 2014

CONTAGEM REGRESSIVA...TIC...TAC...TIC...TAC...

Por Patrícia Leite


Novamente, pedi tempo...



Para perdoar, para me recuperar dos fracassos, para aguardar os amores impossíveis e ele, que nem é o dono do tempo, me disse:

Tempo para a vida forjar uma têmpera resistente como diamante, em paz como um monge e cortante como navalha.

Retruquei...

Mas que a têmpera siga para além do metal forjado no resfriamento abrupto. Desejo mais...

Anseio que a têmpera seja uma pictórica da nossa vida multifacetada e que tenha pigmentos múltiplos.

Que a têmpera nos envolva, a tudo e a todos os que são pares, em uma massa aglutinante e ressignificada.

Para no fim...É o que espero...

Sejamos todos afrescos de gente que sabe seguir em frente a recobrir-se de camadas e camadas de verniz social, realçando o próprio brilho e os matizes daqueles que apreciam a transformação promovida pelo tempo.



Porque para enfrentar o tempo de espera é preciso coragem de dizer não em um pedaço de tempo. É preciso encarar o caminho, seus buracos e curvas derrapantes. É dar a cara a tapa...

Sim, tudo passa!!!

O tempo passa, o ruim do tempo passa, pessoas também passam. Gente fica para trás no tempo...Tem gente que vem com o tempo e tem gente que sobrevive ao tempo



O verdadeiro tempo de ser é o tempo que suplanta sagas.





quinta-feira, 30 de outubro de 2014

SOLITUDE

Por Patrícia Leite

As velas sequer panejavam. As nuvens estavam imóveis e a água era um espelho a refletir o pôr do sol. Enquanto o céu se enchia de vermelho... O silêncio se espalhava.

Por um breve espaço de tempo, foi possível ouvir o som da própria respiração. Mas esta era tão cadenciada e calma que, em dado momento, não mais foi possível ouvi-la.

O vento parou por completo. E ela, que sempre tinha o vento por companhia, se viu só. Apoitou-se naquele estado de ensimesmamento que não requer a presença de ninguémDeitou-se no cockpit do barco e simplesmente relaxou de suas pressas.

As obrigações estavam “aterradas”. As pessoas estavam muito longe dali. Mas ela pôde senti-las em seus lugares densamente ocupados de tarefas cotidianas. O corre-corre, o trânsito, o ritmo frenético.

Cenas da urbanidade contrastadas com sua paz interior formaram um turbilhão de frenesis que “catarsearam” obviedades e que puseram a correr em suas veias percepções múltiplas a jorrar vicissitudes.

Deu de ombros...Estava entregue...

E foi exatamente naquele estado de libertação psíquica que se deu conta de que sentimentos precisam de algo novo que os transforme. Tatear a solidão foi uma experiência prazerosa.

Deu-se conta de que estava no melhor momento da sua vida. Tinha absoluto controle da desconexão temporária das obrigações e necessidades mundanas como trabalhar, comer, dormir, vestir...

Encarnada no seu crescimento como indivíduo iniciou um processo de separação do físico e deixou o espírito vagar saudável. Revisitou-se. Esteve consigo por longo tempo e submergiu na pura alegria de viver suas muitas vidas e seus muitos personagens.

De fato, deu-se conta, que sem a força motriz e tolhida da escolha de ir ou ficar parada... Encontrou-se.

Se não tivesse sido forçada a estar sozinha durante um período não poderia jamais ela experienciar o enriquecedor prazer de se encontrar tranquilamente com seu processo de mudança e crescimento.

Uma lufada encheu repentinamente as velas e tudo começou a se mover novamente. Estava de volta a realidade. Mas despertou daquele estado de “transe” absolutamente modificada.

Com ou sem estímulos externos, por opção, faria aquilo mais vezes. Estava decidido. Dali em diante, pararia para um encontro íntimo consigo mesma com regular frequência. Era um prazer enorme estar em sua própria companhia. Havia visitado o seu próprio estrangeiro...


Sim, agora, ela estava pronta para estar com o outro além de si mesma e fazer entregas verdadeiras