sexta-feira, 24 de março de 2017

NÉCESSAIRE DE DESEJOS

Por Patrícia Leite














Carnaval 2017. É nesse período de tempo que começa a nossa história de hoje. A festa é profana e é da carne, com certeza! Mas eu queria um período sabático... Um tempo de ócio criativo...Um estar comigo no sentido mais amplo.

Estava cansada de tudo a minha volta: asfalto, gente estressada, longas jornadas de trabalho, crise hídrica... E resolvi estar, por um tempo, no mato e em águas correntes.

Queria estar em contato com àquelas águas que não caem do chuveiro... Que não correm em tubulações para depois pingar em torneiras. Eu queria mais. Queria águas que entoam cantos... Que tamborilam profundas notas musicais sobre as pedras. E que deixam um rouco som de prazer no ar.

Ai... Eu queria mais. Queria estar em águas que formam nuvens para depois precipitar em chuva – em água que cai. Sim, eu queria estar a me banhar em água que cai.

O destino?? Chapada dos Veadeiros – Cavalcante (GO), cerca de 300 quilômetros de Brasília... Sim, esse seria o destino.

A ideia era fazer longas imersões em cachoeiras e trilhas. Ascender fogueiras que invocavam o sagrado feminino e comer refeições temperadas com amor, regadas a cantoria dos grilos e do crepitar sereno do fogo de chão.





E foi exatamente isso o que eu fiz. Uma barraca, uma mochila, cangas, biquínis, provisões e uma turma incrível que entre os pertences traziam uma nécessaire de desejos secretos e uma enorme alegria de viver. Gente do bem...Gente de fé.

Devidamente instalados, sentamos juntos e tomamos uma caneca de café. Depois, antes de ir para barraca, sentada na varanda, me permiti uma pausa para ouvir o silêncio absoluto e que gentimente dividiu espaço com meus devaneios.

Naquele momento, tudo era apenas um estar imersa sob um teto de estrelas. Ao longe, a “voz rouca e grave” da Vereda.

Fiquei ali parada...Apenas esperando o sol se deitar no mato. Depois, fiquei a contemplar o breu da noite ser pontilhado lentamente por vagalumes e estrelas. Discreta a lua veio saindo... Preguiçosa toda... Era apenas um caco. Arrastou-se entre as nuvens. Mas sem trazer grandes clarões.





Acho que não quis ofuscar o balé verde e prata. E ficou apenas frestando entre as "cumuloninbus". Respirei fundo, enchi os pulmões de orvalho, fechei os olhos e memorizei. Nenhuma foto poderia capturar tudo aquilo. Nem tentei.