quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

INÍCIOS E TÉRMINOS



Por Patrícia Leite



O sol estava meio tímido, naquela manhã de dezembro. Os planos e os afazeres cotidianos agitavam o pensamento. No carro, Vanessa da Mata cantava músicas de Tom Jobim. E quando o ambiente se encheu da melodia e da letra de Caminhos Cruzados, foi impossível não recordar dos diálogos do fim de semana passado fora da cidade.


Era para ser apenas um almoço descontraído para colocar a conversa fiada em dia e devolver uma história emprestada. 

O assunto, certamente, ficaria nas façanhas de pessoas que pretendem viajar o mundo em um barco. Eles faziam parte deste seleto grupo de aventureiros que pretendem morar no mar.

Durante o longo banho, pensou minuciosamente nos afazeres dos próximos 5 anos. Deteve-se por muito tempo sobre este assunto e sobre os porquês dele ter ganhado tanto fôlego no decorrer do último ano. Listou mentalmente os cursos que teria que fazer e decidiu: – Inglês será o primeiro passo necessário a esta viagem. Antes, porém, era preciso traçar e organizar os possíveis percalços e tudo o que estava por vir. Inclusive, como lidar com as questões financeiras da empreitada. 

Ler e estudar, além da poupança que vinham fazendo para comprar a casa flutuante, de fato, eram parte importante do projeto, ponderou.

Uma ligação a despertou dos devaneios e mudaram os planos do almoço. Cerca de três horas depois, entraram de mãos dadas naquela cidadela para fazer uma refeição leve ou comer um petisco. Na pele traziam ainda as notas íntimas e peculiares da paixão. Os olhos não faziam segredos.

Desceram a rua de pedra rindo, empolgados com aquela viagem de última hora e a meia dúzia de planos ensaiados. Poucos minutos depois, entraram em um restaurante aconchegante, com poucas mesas ocupadas, inundado por uma suave e rouca música ao vivo.

Mas por mais ensimesmados que estivessem, por mais envolvidos nos próprios projetos, foi difícil não notar aquela mulher. Não que ela fosse muito bonita ou um tipo exótico. Ao contrário. Era de uma beleza comum, cabelos e olhos escuros, pele clara, estatura mediana. Foi o choro intenso e prolongado que chamou a atenção para ela.

Sobre a mesa de madeira rústica, uma garrafa de cerveja, dois copos pela metade e uma música melancólica de Caetano Veloso fazia pano de fundo para uma história de amor prestes a terminar. O que teria acontecido? Traição, deixou escapar dos lábios um outro casal que observava a cena.

Não faltaram conjecturas sobre as razões de todo aquele choro. Impossível não dar ouvidos aquela conversa cochichada. Ele a traiu e ela ponderava se iria ou não perdoar. Ela o amava e ele jogaria com isso.

– Foi um deslize, um erro, não vai se repetir, afirmou dando uma pausa dramática para aguardar o perdão. Não existem traições únicas, disseram um para o outro o casal de viajantes. Na próxima oportunidade a coisa toda vai se repetir. Todos fingiam que não, mas olhavam e aguardavam o desenrolar dos fatos. No fundo, um pensamento perpassou a cabeça de todos. Era o começo do fim para aquele casal. Aquele amor terminou.

Na mesa em frente, ocorria exatamente o contrário e foi difícil não traçar o paralelo dos contrários. De um lado, o princípio. Do outro, o fim.

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