Por
Patrícia Leite
Foto:
Priscila Leite – [autorretrato das mãos da minha
filha e do meu neto Ravi Leite –10.12.2015]
O *bom dia* veio
acompanhado de um sorriso cativante e a carinhosa frase: – Tenho um
convite para lhe fazer. Um frio me correu a espinha e depositou-se em
um dos meus chacras principais.
Algo dentro de mim
anunciava que não era um convite qualquer. E não era mesmo. Era um
convite muito especial e comovente.
Senti como se
milhões de borboletas voassem dentro do meu plexo solar, pululando
do seu lugar de origem e provocando uma brisa travessa que
prenunciava que algo importante estava por vir.
Em benefício da
verdade, é preciso que eu diga que ando mais emotiva e sensível que
o normal e que pude, de certa forma, antever a proposta antes mesmo
de ela saltar daquela boca amiga.
Aliás, tenho
flanado ultimamente com aquela eterna sensação de déjà vu. Não
por acaso, o mensageiro tinha voz de anjo e trazia notícias do lado
de lá.
Devagar e segurando
minhas mãos, caminhou ao meu lado e sorriu trazendo consigo as
palavras emolduradas nos sonhos da noite anterior, pronunciadas por
semelhante rosto róseo e parcialmente coberto com cachinhos
dourados.
Ela veio, deu o
recado e determinou prazo para levar resposta. Era uma ordem, mas o
tom era de quem pede singelamente, era manso, era sereno.
Caminhei só por
alguns instantes e pensei… Pensei…[…]
Final do ano
chegando, confraternizações, correria, muita coisa pra fazer.
Repassei mentalmente a agenda: ceia para planejar, compra de
presentes para a família, mimos para os jogos de amigos-ocultos e
ainda tinha que escolher o presente solicitado na tradicional
cartinha dos Correios e Telégrafos e pegar as lembranças
encomendadas para as crianças do orfanato.
Comprar, comprar e
comprar… E fazer o balanço […]
Tempo de pesar o que
realizei, o que ficou pendente e os objetivos para o próximo ano.
Pois é… Esse ano seria um pouco diferente. Faria um balancete dos
últimos 50 anos. Meio século. Uau!!! O número por si só já
assusta, pensei. Rsrsrs…
Ano após ano, em
cada Natal, a história se repete com um ou outro detalhe diferente.
Um amigo ou parente a menos, um novo membro sendo incorporado a
família etc.
Conjecturei com meus
botões, muitas e muitas vezes, que o Natal deveria ser de três em
três meses. Ao menos o espírito natalino deveria ser revigorado a
cada três meses. Mas como aniversário só se comemora uma vez por
ano… Jesus Cristo, infelizmente, teria que se contentar com esse
clima de amor e solidariedade que ronda apenas o mês de dezembro.
Todavia, apesar do
meu desejo, o que conta mesmo é que nesse mês o “Espírito de
Natal” está no ar, contagiando a todos, até mesmo aqueles que se
declaram ateus.
E, nesse Natal, eu
que sou espírita – eu que creio que estamos aqui somente de
passagem para honra e glória do Pai, para aprendermos e evoluirmos
–, daria de presente algo não comercializável.
Finalmente, daria um
'presente'
genuíno. Talhado pelas mãos do criador em pessoa.
POR ONDE COMEÇAR?
Talvez na edificação, na escolha da raiz colhida ainda em muda,
em outros tempos, em outras vidas.
Quando cheguei por
aqui, em 1966, cheguei com escolhas prontas, creio. Escolhi minha
missão e como faria para cumpri-la. Tomei essa decisão, antes mesmo
de fazer do ventre de minha mãe morada, antes mesmo de saber quando
chegaria na recém-inaugurada capital do país.
Escolhi quem seria
meu pai, minha mãe, meus irmãos e todos que me ajudariam nessa
jornada. Todos que me auxiliariam nessa estrada louca da vida.
Num impulso
construtivo resolvi deixar os dedos se moverem sobre o teclado, sem
pensar muito no que estava sendo dito ou quantos caracteres seriam
usados para contar essa história. Afinal, precisava embrulhar meu
presente e colocar-lhe um 'lindo laço'.
Laço?? A verdade é
que a única maneira que a alma encontra para “dar um tempo para o
aprendizado”, na maioria das vezes, pensei, é quando caímos e nos
fraturamos. Laços?? Meu presente seria então 'colar', estava
decidido. O material teria que ser forte e resistente as intempéries.
Abri um quartinho de
coisas que me foram dadas durante toda minha vida. E me pus a
remexer, vasculhar estantes, gavetas, caixas … Procurei até por
algo que servisse ao propósito nas pastas do arquivo morto.
Encontrei de um tudo
naquele sótão empoeirado pelos anos. Alguns tijolos, ferros, areia,
pedras, um pouco de cimento e muita, muita argamassa. Materiais que
me foram dados logo de início ainda na minha primeira década de
vida e que me foram sendo entregues, em lotes, durante toda minha
trajetória. Mas nada havia para o acabamento. Revirei tudo. E não
encontrei naaaada para o acabamento. Tudo bem… Entendi que cada um
de nós somos uma igreja em nós mesmos. E o templo precisa ser
construído continuamente. Nada está finalizado. Obra de igreja não
acaba nunca, dizem. Rsrsrs… E é verdade. Somos igrejas em
constante reparo e restauração. Por isso, de pronto, entendi o
motivo de não haver nada de material para acabamento naquelas
estantes.
Não, não sou
carola. Mas creio cegamente que para tudo há um propósito. Não
creio no acaso. Há em tudo uma razão de ser. Simples assim. Mas
voltando ao que interessa…Comecei a pensar em como havia acumulado
aquele imenso estoque de material de construção.
Então, lembrei que
cedo me entregaram a primeira pedra: papai e mamãe se separaram
quando eu tinha uns 3 anos. Depois chegaram toneladas de areia. Fui
soterrada pelos descasos, vida corrida, abandono, abusos,
maus-tratos, solidão, angústias, medos, doenças e desventuras de
todo tipo.
E cada vez que uma
carreta me cobriu, elevei meus pensamentos ao alto, orei e agradeci.
Também me irei, fiquei de mal com Deus e chorei e berrei e
esperneei. E Ele como um bom Pai me dizia baixinho: Só há um único
CAMINHO para se sentir pleno. Nunca desvie dele!!
Todos temos tumores
sociais. Maridos ou mulheres drogados, doenças sem cura, amputações,
espancamentos, fome, miséria…Qualquer um pode desfiar um novelo de
capítulos terríveis. Mas as mazelas não são terra boa para
germinar o que de fato é necessário.
Mas vou lhe segredar
um valioso fármaco. Há um emplasto que tudo cura. E ele é a
verdadeira argamassa, o cimento, o que constrói verdadeiramente,
transforma. Ele é o sapê que ergue as paredes das casas mais
humildes. É também o remédio de todas as chagas. É o colo
tranquilo para o repouso dos exaustos.
Não importa quais
tombos levei, às inúmeras vezes que derrapei, escorreguei, cai, me
espatifei. Importa que todas as vezes levantei. Coloquei esse
emplasto sobre as feridas e me curei e me curei.
Certa vez, li que o
bem e o mal são duas grandes feras selvagens que chegam para nossos
cuidados ainda filhotes. Crescerá aquele que alimentarmos melhor.
Escolhi alimentar o filhotinho do bem.
Falar de amor, nos
dias de hoje, é considerado brega. Mas eu sou brega e adooooro essa
breguice que me habita e sou feliz dessa maneira. E esse é o meu
presente muitíssimo brega pra você.
Hoje, quero
aproveitar essa oportunidade e te dar o maior presente que a vida me
deu. Quero dar pra você. Desejo que você possa também presentear
outro com o mesmo presente super brega que estou te dando agora. Não,
não vou achar que você está me desfeiteando dando o presente que
eu te dei pra outro.
Quero te dar AMOR.
Essa argamassa que nos cimenta, nos edifica, nos põe de pé. Eu sou
resultado de cada pedra que apareceu no caminho, cada areia que
recaiu sobre mim, cada buraco escavado sob meus pés. Porque peguei
tudo que me atiraram e misturei com essa liga maravilhosa.
Somos todos pequenas
argolas, mãos que somam e formam correntes de cura. Somos apenas
pequenos ELOS da criação. Mas renascemos no sorriso confiante do
outro. Brotamos mais preparados quando nos alimentamos desse
sentimento incondicional.
Olhe a sua volta!!
Ser feliz é uma escolha. Procure e encontre. Na maioria das vezes, a
menor de todas as mãos, a que parece mais frágil e necessitada é
que traz a força e o amor necessário ao nosso resgate.
O único caminho é
o amor. É também o mais seguro. Portanto, fé em Deus e pé na
tábua!!