Sim, em
outubro de 2016, o poeta Jesus apareceu na TV. É verdade.
Estreou no mesmo mês em que Deus e eu terminamos a nossa programação
diária.
No
dia 17, daquele mês, para ser mais precisa, Deus e eu rompemos uma
transmissão que parecia caminhar para uma longa, consagrada e
dinâmica audiência.
O
Ibope do nosso programa despencou sem razão aparente. Nunca soubemos
explicar o porquê. O fato é que, de um minuto para o outro, o animado
dueto do horário nobre, não funcionava mais.
Estranha
coincidência a saída de um e a chegada do outro? Não sei! Acho que
não. Há muito, não acredito no acaso. O fato é que passado pouco
mais de um ano, em 23 de fevereiro de 2018, estávamos nós [o poeta
Jesus e eu] entrelaçados preparando o script da mais genial comédia
romântico-musical que já se teve notícia.
Todos
diziam: – Uma delicia vê-los contracenar.
Nos
ensaios, era um misto de cheiros, peles, nervos, pés, mãos, suores,
pelos e fluidos de todos os tipos.
Aquela
química toda, temperada com vinho, olhares e sons indecifráveis se
espalhava pelo ar e contaminava a todos nos estúdios e nos
bastidores.
O
grande dramaturgo não desperdiçou uma cena proposta pelo elenco. Os
atores, por fim, também não se fizerem de rogados... Se debruçaram
e se puseram a escrever arrojadas cenas para essa trama.
E
já
não eram apenas cacos de
textos enxertados
quando as colas não estavam por perto e
a memória parecia falhar.
Criavam capítulos inteiros e se divertiam com isso.
A
vida era um turbilhão de risos, piadas internas, poesias e danças
desnudas de tudo: de pudores, de imposições sociais, de acatos.
Eles
eram a melhor e mais perfeita crônica étnica. Ele negro e ela
índia. Peles super pigmentadas emaranhadas em cabelos lisos, barbas e
bigodes crespos.
Em
dezembro de 2018, o autor resolveu colocar alguns atores coadjuvantes
e Iram e Verônica entraram para a trupe.
Outros
núcleos do programa também ganharam mais visibilidade. O poeta
Jesus trouxe para o centro da trama a Galega, uma história paralela
que havia começado anos antes, em uma cidade do sul do país.
De
alguma forma, ele começava a dar sinais de que deixaria a Tv. No
fundo, ele nunca escondeu que preferia o teatro mambembe.
Entre a última semana de fevereiro de 2019 até o dia 8 de março [Dia Internacional da Mulher], ele resolveu dar uma pausa na
temporada e foi passar férias pelas bandas do sul. A ideia era se debruçar
sobre o velho roteiro de Cora Coralina e transformá-lo em livro.
Correndo
pelos estúdios de gravação, a contrarregra simplesmente parou a
estrela principal e disse que a chegada de Santos na trama da nova
temporada em nada mudaria o que ela sentia pelo poeta. E que Santos não combinava com ela.
A
protagonista nem conhece Santos, mas ele já traz consigo o rótulo
de não ter um décimo da poesia que ela desfruta hoje.
Mas
ela e o poeta sabem que estão escrevendo as últimas estrofes, que
tudo que resta são algumas poucas rimas. Assim sendo, é difícil
não tentar pensar em novas métricas. Outros textos precisam ser
escritos, eles sabem.
Virou-se
sobre os calcanhares, ignorou o aviso. No pensamento, propostas,
divagações... Preciso de algo que rime com Santos, pensou. Algo
que, na pior das hipóteses, me estimule a pensar que ele pode fazer
parte da nova história.
É que, no fim das contas, dialogou com seus botões, chegue quem chegar, ao seu lado esse alguém sempre será sucesso.
Sim,
aquela atriz gostava de pensar: "não são meus homens que são
especiais. Há algo especial em mim que desperta o melhor que há
neles. Venha quem vier teremos sempre um novo pico de audiência.
Porque história boa sempre vende.