segunda-feira, 29 de maio de 2017

SONHOS MUTILADOS

Por Patrícia Leite


Empinar pipa, jogar bola ou simplesmente andar em um carrinho de rolimã deveria ser uma realidade na vida do pequeno João Carlos de Oliveira. Mas, órfão de mãe, com apenas sete anos, ele precisou trabalhar como lavador de carros.

E foi somente passando da adolescência para fase adulta que a cinzenta vida de sacrifícios começou a mudar de cor. O treinador Pedro Henrique de Toledo, mais conhecido como Pedrão, olhou para aquele rapaz alto e magrelo e percebeu o potencial que ele tinha como atleta.

Pedrão apostou e ganhou. A sucessão de vitórias consagrou João Carlos de Oliveira como atleta. E João era mesmo um campeão... Acumulou muitas vitórias.

Em 1973, escreveu definitivamente seu nome na história. João quebrou o recorde mundial júnior de salto triplo, no Campeonato Sul-Americano de Atletismo. Virou um atleta especializado em saltos.

Seus feitos foram destaque várias vezes nas primeiras páginas dos jornais. Recordista mundial do salto triplo, medalhista olímpico e tetra-campeão pan-americano no triplo e no salto em distância.

Logo o Brasil e o mundo começaram a chamá-lo de JOÃO DO PULO.

Mas, em 22 de dezembro de 1981, João Carlos de Oliveira teve a carreira de atleta cruelmente encerrada. Um acidente automobilístico custou-lhe a amputação da perna direita. Perder a perna e deixar as competições lhe roubaram a alegria de viver.

Deprimido e alcoólatra o atleta passou os últimos anos de sua vida solitário. Sua maior companhia? A bebida. Com dificuldades financeiras, chegou a ser preso por não pagar pensão alimentícia a um de seus dois filhos.

Mas ainda que infeliz e decadente seu feito como atleta ninguém poderia apagar. E João depois que se despediu dessa vida virou selo e carimbo. Uma homenagem póstuma dos Correios pelos 41 anos do recorde estabelecido por ele no Pan de 1975.

João do Pulo morreu em 29 de maio de 1999 de cirrose hepática e infecção generalizada.

Exibido na Rádio Nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2017-05/historia-hoje-saiba-como-foi-trajetoria-do-atleta-joao-do-pulo


sexta-feira, 26 de maio de 2017

BANZOS DA LONGINQUIDADE

Por Patrícia Leite

 “Não me toque seu leproso!! Leve suas feridas fétidas para longe mim! Alguém tire esse nojento daqui!!” 

Quanto mais distantes os doentes estivessem melhor. Assim sendo, leprosários foram construídos em muitos lugares... Sempre o mais afastado possível das cidades.

Sem tratamento e sem perspectivas de cura esses lugares eram verdadeiros cárceres, onde os doentes estavam sentenciados a pena de morte.

Bacilo Mycobacterium leprae este é o nome científico da doença que marginalizou centenas de milhares de pessoas. E foi durante muito tempo incurável, mutiladora e descriminatória. Na Idade Média, na Europa, por exemplo, os leprosos eram obrigados a carregar sinos para anunciar a sua presença.

Sim... Há mais ou menos três mil anos, os leprosos eram entregues a própria sorte e essa foi uma condenação que se arrastou até a década de 1960, aqui no Brasil, quando foi revogada a lei que determinava que os portadores de lepra fossem "capturados" e obrigados a viver em leprosários.

Mas no dia 26 de maio de 1924, em Curitiba, no Paraná, nasceu um anjo que sonhou mudar esse quadro grotesco e para isso dedicou a vida a curar a doença e o seu decorrente estigma social.

Germano Traple não mediu esforços para lutar contra o mal que ficou conhecido por muitos nomes: lepra, morfeia, mal de Lázaro, mal de Hansen e por fim Hanseníase.

Um espirro, uma tosse... E a doença viaja pelo ar e vai demorar de dois a cinco anos para apresentar os primeiros sintomas. Ninguém está livre de pegar a doença. Ela passa de um doente que não está se tratando para outro. Pode atingir pessoas de todas as idades e classes sociais.

O Dia da Conscientização sobre a Hanseníase foi criado para marcar a data do nascimento do hansenologista Germano Traple. Em parte, para lhe render uma homenagem. Mas principalmente para convencer as pessoas sobre a importância de aderir ao tratamento. Hoje, a doença tem cura.


Exibido na Rádio Nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2017-05/historia-hoje-dia-da-conscientizacao-sobre-hanseniase-presta-homenagem-ao-medico




quarta-feira, 24 de maio de 2017

PONTOS E TRAÇOS

Por Patrícia Leite


Sons contínuos e pausas longas ou breves... Uma combinação específica de pontos e traços capazes de representar todas as letras do alfabeto e todos os números. Essa é a base da comunicação por Código Morse.

Desenvolvido por Samuel Finley Breese Morse, em 1835, esse é um sistema binário de representação à distância e que ficou mundialmente conhecido por Código Morse. Mas foi somente em 24 de maio de 1844, que Morse conseguiu enviar a primeira mensagem telegráfica. Provavelmente você já ouviu alguém falar sobre o Código ou já o viu sendo utilizado em filmes.

O mundo está repleto de símbolos. Pontuações... Letras, palavras, frases... Por meio dos sinais gráficos, aprendemos a codificar o que queremos dizer. Caracteres que expressam quantidades, pensamentos, sentimentos.

As pessoas sempre tiveram a necessidade de dizer ao outro algo ou alguma coisa. Ainda nos tempos dos homens das cavernas, as pinturas rupestres já esboçavam esse desejo.

Um salto no tempo e... 

Combinações organizadas de símbolos passam a formar palavras e frases. E de qualquer ponto do globo passamos a nos comunicar em longa distância.

Os grandes navegadores foram os que mais desfrutaram desta nova tecnologia. E foi no Estreito de Dover, em 1899, que foi realizado oficialmente o primeiro resgate no mar depois de um pedido de socorro utilizando o Código Morse.

Com a invenção do telefone, no fim do século dezenove, o Código Morse caiu em desuso. Imagine agora, em tempos de internet, que um simples notebook, tablet ou celular te conectam imediatamente com alguém que está do outro lado do mundo. Muitos sequer sabem o que é o Código Morse.

Todavia, em situações extremas, como em um naufrágio, por exemplo, somente o Código Morse é capaz de enviar uma mensagem. Por essa e por outras razões, em 24 de maio de 2004, no aniversário de 160 anos da primeira transmissão telegráfica, a União Internacional de Telecomunicações adicionou o caractere "@" (arroba) ao Código Morse, como um "AC" juntos. O novo caractere facilitou o envio de endereços de correio eletrônico por Código Morse. Vale ressaltar que esta foi a primeira adição ao Código desde a I Guerra Mundial.

Veiculado na Rádio Nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2017-05/historia-hoje-codigo-morse-primeira-transmissao-telegrafica-completa-173-anos




segunda-feira, 22 de maio de 2017

REPAROS

Por Patrícia Leite




Por todos os lados as labaredas lambiam as embarcações... Era uma fogueira de revolta... Fagulhas de uma população dizendo basta.

Este era o cenário principal de uma rebelião popular que aconteceu em 22 de maio de 1959, contra o serviço de transporte hidroviário que fazia a rota Rio-Niterói e que ficou conhecida como “A Revolta das Barcas”.

A rebelião, além de seis mortos e 118 feridos, resultou na queda dos empresários do Grupo Carreteiro que administravam o serviço. Com a destruição da frota foi necessário a intervenção federal e a consequente estatização das barcas.


No final da década de 1950, nem se sonhava com a construção da ponte Rio-Niterói e as barcas eram a única maneira de atravessar a baia de Guanabara. Vale lembrar que o Rio de Janeiro era a capital do Brasil nesse período.

Por isso, na época, metade dos cerca de duzentos mil niteroienses, dependiam das barcas para ir trabalhar, estudar e tratar problemas que só eram possíveis ser resolvidos na capital.

O Grupo Carreteiro vivia solicitando apoio financeiro ao governo para cobrir os supostos gastos com a manutenção das barcas. O governo normalmente negava alegando que o Grupo prestava falsas informações sobre os gastos.

Havia uma forte suspeita de que a empresa gastava menos da metade do que exigia. Mas a desconfiança nunca foi devidamente investigada.

O serviço que passou a ser oferecido pelo estado era precário e não dava vazão a demanda. E, naquele 22 de maio, a população começou a se aglomerar na rampa de acesso as barcas. Os ânimos foram se acirrando e os atrasos foram o estopim que faltava para aumentar a tensão local.

Para piorar a situação, os fuzileiros navais que tentavam colocar a fila em ordem começaram a agir com violência.

Tomados pela fúria, os usuários das barcas marcharam para o escritório da empresa, a três quilômetros do foco da revolta. Invadiram a sede e arremessaram tudo o que era possível arremessar pela janela. No fim...tudo era chamas.

Na parede, antes de partirem, um último ato de desagravo: "Aqui jazem as fortunas do Grupo Carreteiro, acumuladas com o sacrifício do povo."

Exibido na Rádio Nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2017-05/historia-hoje-revolta-das-barcas-completa-58-anos

sexta-feira, 19 de maio de 2017

GENIALF

Por Patrícia Leite




Há 88 anos, nascia um dos pais da Bossa Nova.


Alfredo José da Silva ou simplesmente Johnny Alf, nasceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de maio de 1929. Ele foi professor, compositor, pianista e cantor. Suas obras influenciaram toda uma geração de músicos.

Mas não da para falar de Alf sem falar de Bossa Nova. Certamente, os amantes e os estudiosos desse movimento da MPB – lançado, no final da década de 1950, por João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e outros tantos jovens cantores e compositores -- , sabem de quem estou falando.

Tom Jobim considerava Johnny Alf um gênio e o admirava tanto que o apelidou de Genialf. Não por acaso Jobim tinha tamanho apreço e admiração pelo trabalho do amigo.

Suas músicas e sua voz rouca embalaram romances e foram a trilha sonora escolhida para dar início a muitas histórias de amor. A vida difícil e triste, de alguma forma, aparece nas suas composições.


Johnny Alf perdeu o pai muito cedo, aos três anos. Por essa razão, sua mãe foi trabalhar de empregada doméstica. Johnny tinha apenas 9 anos quando Geni Borges – amiga da família para quem a mãe trabalhava –, o iniciou nos estudos de piano. Mas apesar de gostar da música clássica, Johnny logo tomou-se de amores pela música popular.

A carreira profissional começou em 1952, quando Dick Farney e Nora Ney o contrataram como pianista da nova cantina do radialista César de Alencar. Depois, Johnny Alf passou a tocar em boates. Duas canções se destacaram neste período: Céu e mar e Rapaz de bem. As duas músicas foram consideradas revolucionárias, realmente as precursoras da Bossa Nova. A melodia e a harmonia dessas duas cnções foram, de fato, a base para chegada definitiva da Bossa.

Durante três anos, Alf lutou contra um câncer de próstata. No fim da vida ele raramente se apresentava. Com raras exceções. Uma delas foi, em 2008, na Oca, na abertura das exposições dedicadas aos 50 anos da Bossa Nova. Sem parentes, nos últimos anos viveu em um asilo em Santo André, onde morreu, aos 80 anos.

Johnny Alf foi o clássico caso dos grandes artistas que não alcançaram em vida o devido reconhecimento.

Veiculado na Rádio Nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/cultura/audio/2017-05/historia-hoje-ha-88-anos-nascia-johnny-alf-um-dos-precursores-da-bossa-nova

quinta-feira, 18 de maio de 2017

ELETROCONVULSOTERAPIA

Por Patrícia Leite

Há 27 anos, a Organização Mundial de Saúde retirou o homossexualismo de seu rol de distúrbios mentais.


Até 17 de maio de 1990, a medicina “classificava” o homossexualismo como doença. E nas ruas a intolerância e a rejeição as pessoas que se relacionavam sexualmente com pessoas do mesmo sexo eram mais do que preconceituosas eram cruéis.

Os poucos que ousavam assumir sua preferência sexual eram apontados e xingados. Era comum os homossexuais ouvirem ataques verbais em casa e nas ruas como: bicha, baitola, transviado, pervertido, tarado, anormal, doente. Podemos passar um dia inteiro enumerando a xingação e não vamos conseguir listar todos os insultos.

Mas o pior não era ser achincalhado em praça pública. O pior era ser encaminhado para tratamento.


As famílias tradicionais internavam seus filhos e parentes para curar a “tal enfermidade” que os levavam a ter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo.

Na década de 1980, a medicina ainda diagnosticava os homossexuais como pacientes com distúrbios. E os tratamentos eram feitos por meio de hipnose e choques elétricos. Não raro os homens eram castrados ou eram submetidos a cirurgias de lobotomia e desta forma ficavam alheios a tudo. Esse último procedimento, como devem saber, leva o paciente a um estado de baixa reação emocional, a um estado de indiferença total.


Tudo isso parece filme de ficção com baixo orçamento, não é mesmo? Mais não é! Ignorância e preconceito um binômio perigoso que tem promovido a intolerância.

Tudo indica que a Homofobia é o novo filme. Dessa vez, de suspense e terror com cenas urbanas que desumanizam e negam a dignidade. Para dizer o mínimo, um filme sobre violação aos direitos humanos que normalmente tem cenas de espancamento e morte.

17 de maio foi declarado o Dia Internacional de Combate à Homofobia. Mas enquanto houver aversão a diversidade e intolerância...O mocinho e a mocinha vão morrer no final.


Veiculado na Rádio Nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2017-05/historia-hoje-dia-internacional-de-combate-homofobia



segunda-feira, 15 de maio de 2017

FANTASMAS SOBRE TRILHOS

Por Patrícia Leite



Os primeiros encontros para debater a construção de uma ferrovia em plena floresta Amazônica aconteceram por volta de 1868. Mas foi somente depois de firmado um tratado entre Brasil e Bolívia, em 15 de maio de 1882, que foram abertas as primeiras picadas no meio da selva; para colocação dos primeiros trilhos da ferrovia Madeira-Mamoré.

A topografia, os inúmeros perigos da floresta e a dificuldade em levar máquinas e matéria-prima para o coração da Amazônia transformaram a construção da ferrovia Madeira-Mamoré em um berçário macabro de lendas.

O começo da primavera de 1873, trazia para a região a beleza e o perfume de suas primeiras flores. Mas também enfeitavam as despedidas e a saudades de centenas de famílias que choravam seus mortos.

Uma parte expressiva dos mais de 20 mil trabalhadores, de cerca de 50 nacionalidades diferentes foram vítimas de doenças tropicais. E não foi por acaso que os 366 quilômetros de trilhos – que ligariam Porto Velho a Guajará-Mirim –, ficariam conhecidos como a “Ferrovia da Morte”.

Foi impossível segurar a boca do povo. Logo o mito de que mesmo que metade da população mundial e todo o dinheiro do mundo fossem investidos na colocação dos trilhos... Nada, nem ninguém, conseguiria terminar a ferrovia.

Nesta época, o “Diário do Grão Pará”, em Belém, fortalecia o discurso popular de que os que se atrevessem a subir o Madeira voltariam "flagelados pela peste".

Para contornar o problema, o sanitarista Oswaldo Cruz foi contratado para visitar o canteiro de obras e levar o saneamento básico para a região. Ainda assim, os homens desertavam aos borbotões.

O mito virou fato e verdade, por anos. E toneladas de equipamentos e materiais foram destruídos pela ação do tempo. Mas o governo brasileiro queria que o projeto fosse finalizado, para poder transportar o valorizadíssimo ouro branco – o látex extraído dos nossos seringais. Durante 40 anos, as obras começaram e foram interrompidas por três vezes. A estrada só foi finalizada pelo grupo do empresário norte-americano Percival Faquhar. A ferrovia foi oficialmente inaugurada em 1º de agosto de 1912.

Em 2005, o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional –, tombou parcialmente a Ferrovia Madeira-Mamoré. 

 A estrada de ferro, as locomotivas e os galpões onde funcionavam o museu e a antiga oficina da ferrovia estão sendo revitalizados pelos governos federal e municipal.

Até hoje, há lendas que dizem que os fantasmas dos trabalhadores mortos podem ser vistos sentados nos trilhos.

Veiculado na Rádio Nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2017-05/historia-hoje-construcao-da-ferrovia-madeira-mamore-teve-inicio-ha-135-anos



sexta-feira, 12 de maio de 2017

JAMELÃO

Por Patrícia Leite


Em 12 de maio de 1913, nascia José Bispo Clementino dos Santos.

Sei que falam de mim // Sei que zombam de mim // Oh, Deus como sou infeliz // Vivo às margens da vida // Sem amparo ou guarida // Oh, Deus como sou infeliz”


Uma voz privilegiada, firme e rouca. O timbre raro, o sotaque carioca e a paixão pela música denunciam o dono da voz. Sim, acertou quem disse “Jamelão”, um dos maiores interpretes da música popular brasileira.


Cerca de 100 anos antes de nascer, por volta de 1803, no alto de uma colina foi erguido um casarão com vista para a baía de Guanabara. Tempos mais tarde, D. João VI escolheu o lugar para ser o Palácio Real da Casa de Bragança e a grande casa ficou conhecida como "Paço de São Cristóvão", o Palácio Imperial.


A nobreza se instalou por ali, grandes solares foram erguidos e claro que ele não poderia vir de outro lugar, apesar de ter que ajudar no sustento da casa, foi ali que o nobre representante de uma época de ouro da música romântica cresceu.


Sua coroação veio mais tarde como cantor de samba. Levado por um amigo-músico, Jamelão conheceu o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira – para os íntimos, simplesmente mangueira. E ele se apaixonou pela escola, e aquele galpão passou a ser a sua casa.
A mangueira estava definitivamente gravada no coração, nas veias, no pulso daquele menino-homem, que começou ainda muito jovem, tocando tamborim na bateria e depois se tornou um dos principais intérpretes da Mangueira.

Depois de um longo período de glória e reconhecimento artístico, aos 95 anos, Jamelão morre, no Rio de Janeiro, no dia 14 de junho de 2008, O cantor se despediu do palco e do mundo. Mas deixou de herança a sua voz, a sua arte e saudades.

Veiculado na rádio nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/cultura/audio/2017-05/historia-hoje-ha-104-anos-nascia-jamelao-tradicional-interprete-dos-sambas




quinta-feira, 11 de maio de 2017

PÉS RITMADOS

Por Patrícia Leite



Em 10 de maio de 1899, nasce Fred Astaire, uma lenda da sétima arte.

Quando Ann e Frederic saíram da maternidade, com Frederick Austerlitz nos braços, jamais imaginaram que aqueles pequenos pés encantariam o mundo.

Ele nasceu em Omaha. A cidade mais populosa do estado americano do Nebraska. De origem judaica, cresceu sob os dogmas da fé tradicional de sua família.

Para os padrões da época, não era um homem exatamente bonito. Mas esbanjava charme. Era elegante, sofisticado e excepcionalmente talentoso. Dançava como ninguém.


A cena era simples... Um beijo apaixonado e a demonstração da alegria de quem tem nos braços a pessoa amada. Nos filmes românticos pode-se dizer que era um take até muito tradicional... Mas não na representação de Fred Astaire. 


E quem não se lembra de Astaire em suas deliciosas cenas de sapateado? De seus pés ritmados... Da batida do solado dos seus sapatos, no molhado da calçada!?


Fred Astaire realmente dançava como ninguém. Seus filmes com Ginger Rogers, de fato, revolucionaram os musicais para sempre.

Astaire desnudou cada vez mais não apenas o bailarino. Ele visitou e revisitou o imaginário popular e se tornou uma referência quando o tema é coreografia musical e sua dança inspirou toda uma geração. 

Nem a arquitetura escapou de sua influência. Frank O. Gehry projetou um edifício em Praga, na República Tcheca, em homenagem a Fred e Ginger. E o edifício simboliza o casal em plena dança.

Em 22 de junho de 1987, o mundo dos musicais fica órfão. Aos 88 anos, morre em Los Angeles, o consagrado bailarino, coreógrafo, cantor e ator Fred Astaire.


Veiculado na Rádio Nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/cultura/audio/2017-05/historia-hoje-fred-astaire-nascia-ha-118-anos-para-se-tornar-uma-lenda-da

terça-feira, 9 de maio de 2017

NA LINHA DO HORIZONTE

Por Patrícia Leite





Quando Jean Henry Dunant nasceu, em 8 de maio de 1828, em Genebra, na Suíça, trazia consigo uma nobre missão. Um trabalho que mudaria para sempre os valores envolvidos na prestação voluntária de serviços humanitários.

Ele cresceu em uma família devota do calvinismo e seus pais e parentes vivenciaram o histórico momento da reforma protestante. No dia a dia, a fé os mantinha dentro de uma conduta doutrinária irretocável. Por essa razão, ainda muito jovem, Dunant desenvolveu elevados princípios morais e profundas convicções religiosas.

À medida que crescia, vivenciava os rigores de uma tradicional e rica família Suíça, comprometida com suas obrigações.

Sim, ele era um bem-nascido, como diz o dito popular e gozava de grande influência social. O que facilitou sua filantropia e seu ativista humanitário.

Dunant nunca se distanciou dos movimentos de caridade. Tanto que uma visita a Toulon, onde viu o sofrimento dos presidiários, o influenciou de forma definitiva.

E essa transformação fez com que aquele jovem crescesse obstinado, dedicado aos negócios, mas sem esquecer as causas humanitárias. Desde então, ele passou a visitar com frequência o sistema carcerário e dedicou uma parcela de seu tempo para ajudar a corrigir a conduta daqueles infratores.

Em Genebra, Dunant tornou-se membro da Liga dos Donativos, onde a proposta era levar conforto espiritual e auxílio material para os pobres, enfermos e amargurados.

Nesta época, a obra de Dunant começava a surgir, já estava impregnada em sua alma...

Durante uma viagem de negócios, à Itália, em junho de 1859, Dunant chegou a Castiglione della Pieve, local próximo aos combates da Batalha de Solferino.

A cidade ficou lotada. As vítimas chegavam a todo instante e os serviços médicos disponíveis não davam conta de tantos feridos. Dunant correu a buscar voluntários que pudessem ajudar.

A guerra acabou, mas as ideias de Dunant ganharam asas. Sua proposta de que voluntários treinados fossem organizadas tomou forma e conquistou adeptos. Em tempos de guerra ou catástrofes haveria sempre um voluntário treinado, pronto para socorrer e ajudar.


Mas foi somente em 1901, que ele teve sua trajetória reconhecida e se tornou o primeiro Prêmio Nobel da Paz. Em sua homenagem, o dia do seu nascimento – 8 de Maio – é comemorado em todo o mundo como o Dia Mundial da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

Veiculado na rádio Nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2017-05/historia-hoje-fundador-da-cruz-vermelha-nascia-ha-189-anos

quinta-feira, 4 de maio de 2017

CONQUISTAS MANIFESTAS

Por Patrícia Leite

A sociedade só progride por meio da luta de classes: um conflito entre uma classe social que controla os meios de produção e a classe trabalhadora, que fornece a mão de obra”



Ele foi muitas coisas. Filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário, para dizer o mínimo sobre o rei da arquitetura social contemporânea.


Nascido em Tréveris – Alemanha, em 5 de maio de 1818, Karl Marx foi e ainda é a fonte inspiradora de onde jorra as principais discussões sobre o socialismo.


Ora enaltecido, ora duramente criticado, Karl Marx e sua obra tem sido uma das mais polêmicas discussões e influências na história da sociedade “moderna e pós-moderna”.


Autor de vários livros, se destacou com a publicação de “O Manifesto Comunista” e “O Capital”, com pensamentos e teorias que dobraram gerações e influenciaram, em todos os cantos do planeta, intelectuais, políticos e sobretudo a classe trabalhadora.


As teorias de Marx sobre a sociedade, a economia e a política sustentam, entre outros conceitos, que o Estado, embora disfarçado de instrumento de representação do povo, em benefício da verdade, foi criado para proteger os interesses da classe dominante.


E, guardadas as devidas proporções, para quem nasceu em berço de ouro, Marx previu que o capitalismo produziria tensões internas tão grandes que conduziriam à sua auto-destruição e a consequente substituição por um novo sistema: o socialismo.


Marx chegou a montar, uma equação básica, uma espécie de receitinha para “a conquista do poder pela classe operária e o estabelecimento definitivo de uma sociedade sem classes e sem pátria regida somente por uma livre associação:


Misture uma sociedade industrial, com uma pitada de acúmulo de capital, espere a massa crescer, e voilá. Saboreie uma fatia quentinha, de comunismo organização socioeconômica baseada na propriedade coletiva dos meios de produção.


O socialista revolucionário Karl Marx morreu em Londres, em 14 de março de1883. Suas ideias ainda influenciam trabalhadores e sindicalistas. E inspiram pessoas a provocar ações revolucionárias organizadas para derrubar o capitalismo vigente e promover mudanças socioeconômicas.

Veiculado na Rádio Nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2017-05/historia-hoje-ha-199-anos-nascia-o-filosofo-karl-marx

quarta-feira, 3 de maio de 2017

MENTES SELVAGENS

Por Patrícia Leite

Quando você tiver de fazer algum mal a alguém, faça-o todo de uma só vez. A dor será intensa, mas apenas uma. Já o bem, faça-o em parcelas. O favorecido ficará alegre e grato a você várias vezes”.


























Há 548 anos, o mundo recebia de braços abertos e veria crescer e se desenvolver o pensamento maquiavélico.

Niccolò di Bernardo dei Machiavelli este é o nome de batismo de Nicolau Maquiavel – escritor e político italiano que nasceu no dia 3 de maio de 1469, em Florença, e que desempenhou várias missões diplomáticas.

Em 1513, numa conspiração para eliminar o cardeal Giovanni de Médici, foi preso e torturado. Este episódio de sua vida culminou em seu exílio nos arredores de Florençaonde se dedicou a escrita.

Neste período, Maquiável escreveu O Príncipe. Um título, aparentemente romântico, para uma espécie de manual sobre a arte de governar.

A obra – que nasce de suas experiências diplomáticas –, revela que é necessário ser príncipe, ou seja governante, para conhecer perfeitamente a natureza do povo. Mas também é preciso pertencer ao povo para conhecer a natureza dos príncipes.

Em tempos modernos, é o mesmo que dizer que é preciso conhecer a natureza dos que estão no comando político e a natureza do povo para quem se governa.

A expressão maquiavélico foi cunhada para descrever uma forma de pensar. Qualquer dicionário que se preze descreverá o termo como: ardiloso, pessoa que não se importa como vai atingir seus objetivos.

Em outras palavras “Os fins justificam os meios”. De fato, esta é uma frase atribuída a Maquiavel, por séculos, e que significa dizer que os governantes e outros poderes devem estar acima da ética e moral dominante para alcançar seus objetivos ou realizar seus planos.

Mas será? Embora a expressão não seja encontrada no texto original de O Príncipe, tornou-se uma interpretação tradicional do pensamento maquiavélico.

Mas Maquiavel também defende em sua obra que todos, em princípio, devem honrar a palavra dada. Contudo, ele relata que aqueles que não mantiveram a palavra empenhada tiveram mais êxito.

Maquiavel em uma única obra ensina a conquistar ou manter posições sociais diferentes. E com um brilhantismo que dobrou séculos indicou o norte para os dois fins.

Ele ensinou aos que governam de que “modo se estabelece a tirania, ao mesmo tempo que mostrou ao povo os meios para dela se defender”.

Mais de quinhentos anos depois nada é tão atual. Governantes e governados lutam; para de um lado manter um status e do outro para modificá-lo.

Estudos recentes sobre Maquiavel e sua obra admitem que seu pensamento foi historicamente mal interpretado.
Embora ele diga que há dois modos de se combater: um com as leis; o outro, com a força. As leis, em sua definição, são próprias do ser humano; e a força, dos animais.

Portanto, o caos que surge na insatisfação popular e culmina em selvageria e na consequente repressão policial tem origem animalesca, tem origem na irracionalidade.

O filósofo, historiador, poeta e músico Nicolau Maquiavel morreu em Florença, na Itália, em 21 de junho de 1527. E deixou uma pergunta para humanidade.


Nós – homens e mulheres –, que ora somos povo, ora somos governantes vamos deixar
para trás as leis que deveriam nos assegurar e vamos dar alimento a nossa força animal?


Veiculado na Rádio nacional: http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2017-05/historia-hoje-nascia-ha-548-anos-maquiavel-o-filosofo-que-ensinou-governantes