quinta-feira, 31 de outubro de 2013

OLHOS VERMELHOS

Por Patrícia Leite [31 de outubro de 2013]
Ela tenta passar incólume nos ambientes que frequenta. Mas é como enxurrada, passa arrasando tudo... fazendo estragos. Ela levanta bandeiras, assume quem é, como é e se é ou não resultado ou parte das opiniões que formam dela.

Intensa, engraçada e passional... Ela desfila um rosário de frases inteligentes, diz palavras inquietantes, cria bordões, canta paródias, brilha. Mas, apesar de toda esta efusividade, ela esconde olhos tímidos por trás das grandes lentes de grau, dos modernos óculos de armação vermelha. 

Ela distribui sorrisos, chama a todos de bonito e bonita, mesmo que eles sejam feios ou feias. Ela vê o belo, porque vê os outros com a própria aura de ser e estar no mundo. E tenham certeza a alma desta aura que irradia dela é realmente bela.

Ela acredita em si, acredita no outro, acredita que hoje foi melhor que ontem e que amanhã será sempre melhor que hoje...E que tudo tende a melhorar sempre. E para ela melhora.

Ela é pé, ela é estrada, ela é chão, ela é caçada. É igreja e é balada. Ela é calma e zombaria. Choro e alegria. Ela é risada.

Ela engasga com as próprias gargalhadas, diz que senti dor de muito rir, nos contagia com o seu propósito de ser feliz. E, para além disso, ela ainda é capaz de chorar de perder o fôlego...E depois tirar sarro do próprio destempero, dos “ataques de pelanca”, de dar uma de Juju carente, como ela mesma tem o hábito de dizer.

Ela dança com copos na cabeça, rebola até o chão e depois vai a igreja e reza de joelhos no chão. Ela brinca de ser doida e desastrada, mundana e desenfreada. Mas sobe, a pé, o Convento da Penha só para pedir perdão ou só por gratidão.

Ela chama os amigos com carinhosas palavras obscenas. Ama seus bichanos, gatos pretos, bruxaria, filmes de terror. Apronta como criança, prega sustos, tem cólicas de nervoso. Vive dizendo que vai mudar, que vai ser rude e que vai enfiar um tapa na cara da sociedade.

Vive de metáforas erradas, de cabeça encanada a tomar sérias decisões de nada. Se perde e se acha todos os dias, renovando a pele camaleonicamente, ela é metamorfose, ela é reinvenção. Ela é fruto da própria recriação.

Alguns, aqueles que nunca tiveram a chance de realmente estar com ela, dirão que ela é a típica mulher “normal”. Morena, de estatura mediana, olhos e cabelos castanhos, bocão. Mas não. Ela não é isso, não. Ela é um gigante, de morena não tem nada, é absolutamente colorida. Ela não tem olhos castanhos. Ela tem e exibe, porque tem paixão pela vida, enormes olhos vermelhos. Olhos irrigados pelo compasso de seu próprio coração. 

Ela vai ler e dizer que este texto é brega, mas vai ser capaz de verter litros de água diante destes segundos de emoção. Porque presente pra ela é devolver o mesmo olhar que ela empresta aos que não conseguem ver o que de fato importa nesta vida. Mas quem é ela? Ela atende pelo nome de Andréa. Mas seu nome é amor.