quinta-feira, 28 de novembro de 2019

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Por Patrícia Leite

27.11.2019





























É mais que dividir, distribuir... 

Quero dar, quero presentear, quero partilhar!

Engraçado como muitas vezes me deparo tentando escolher um presente e não encontro exatamente o que quero dar ou o que o meu dinheiro alcança.

Mas quero sempre que o presente seja mais do que o preço na etiqueta. Mais... Muito mais... 

Quero que o presente esteja recheado de significados e singularidades.

E, por falar em presentear, hoje, é aniversário da Priscila, minha filha caçula. Ela está fazendo 32. Eu queria dar de presente para ela uns dias no mar do Caribe, mas não foi possível.

Comemoramos mesmo assim. Bolo, salgados, bebidinhas e um seletíssimo grupo. E enquanto rolava os parabéns, meu pensamento voava como um barco em águas tranquilas e velas ao vento.

Olhava a minha volta e tudo o que eu via era alegria, felicidade. Todas as bocas eram só sorrisos. Eu sorria de volta. Mas meu riso estava para além da piada, do gracejo.

Meu riso estava na força de uma lembrança recente. Pensei em uma música que, dias antes, minha filha havia me dado. 

Assim meio “ao acaso”, como quem não quer nada, ela disse: “Mãe essa música é um presente para você e para o seu Poeta”. É do Rubel e se chama PARTILHAR. 

Soltou o play e o ambiente se encheu de poesia: “Eu quero partilhar, eu quero partilhar, a vida boa com você”.

Uma lindeza de presente, murmurei emocionada.

E a música que era uma trilha só dela, agora também é minha e também é do meu poeta, do preto meu, do amor teu...Do amor dela... Do amor de muitos...

É trilha de quem ama, certamente.

Pra ser franca, fiquei rindo e pensando que existem presentes que são verdadeiramente caríssimos e que por um gesto de grandeza, nós o dividimos em pedaços, repartimos, distribuímos e apesar da aparente ideia de ficar menor, as partes por trás do dividir ficam ainda maiores.

E nessa hora o presente vira história, riqueza e memória, pois que compartilhar é mais que somar ou multiplicar é uma equação que nasce no coração para ser gigante, monumental. 

Acerta Rubel quando diz: “Mais rápida que a dúvida, mais súbita que a lágrima, viajo a toda força, e num instante de saudade e dor eu chego pra dizer que eu vim te ver”.

[...]

Tão pra inventar um mar grande o bastante que me assuste, e que eu desista de você. ”

[...]

“Que amor tão grande tem que ser vivido a todo instante”...

[...]

Pois que eu quero hoje, sempre e antes, compartir a minha vida com vocês.

Trilha sonora/ Compartilhar - Rubel: https://www.letras.mus.br/rubel/partilhar/

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

DESASSOSSEGADAMENTE FELIZ


Por Patrícia Leite
23.10.2019



















Eu queria escrever tudo que me rondava o pensamento sobre o amor fora do cárcere, desalgemado, livre, mas não consegui.

Então escrevi o que deu, meio de qualquer jeito. Tudo o que me enlouquecia o pensamento eu joguei no papel.

Talvez tenha alcançado algum nível de coerência. Não sei. No momento, nada sei. E como é maravilhosa a incerteza de recomeçar do zero o que nem terminou.

O que está aqui, neste texto, foi o que deu para alcançar. Foi o que dava para ser dito ou revelado ao mundo, sem parecer loucura total. Talvez até nem faça sentido algum e o que importa??

Amar é transgredir! E a energia dissipada por esse sentimento não é estática. Tampouco está aprisionada no conceito de dinâmica.

Então o que era toda aquela energia que, por instantes, me paralisou?? Nem sei dizer.

Só sei que é uma energia maior e mais complexa do que todas as energias de que tenho conhecimento. É um outro pulso qualquer que nem sei definir. Se é que há definição.

Mas, se me permitem um neologismo, eu classifiquei essa nova e desconhecida energia como “oscilônica” = que oscila entre estática e dinâmica e que vibra no compasso de um coração alheio e no meu.

Sim, essa vida é louca. Em um mundo em que ninguém é de ninguém e que tudo é descartável.... Encontrei na curva do seu braço, na batida do seu coração a minha nudez.

Despida de tudo me joguei nesse amor, sem nenhum aparato de segurança. Agora??

Agora, a casa de minh’alma está uma bagunça. Uma deliciosa desordem. É uma nova arquitetura, uma sensação, um efeito ciclônico. E eu gosto dessa zorra toda.  

Sim, a alegria veio me visitar. Arrastou os móveis e se pôs a dançar. Bailava com inquietação, com plasticidade e graça, saltava, se erguia, deitava e rolava.

E o coração? O coração batia fora do peito, batia no ouvido, batia na mente, batia em outro peito. Batia...Batia... E bate.

E tudo passou do nada a mais bela representação estética. É a cena principal. O grande ato.

A montagem cênica há tanto desejada estava pronta. Abram-se as cortinas, alguém ordenou!! DEUS, certamente !!

Uma frase, um olhar, um toque, uma decisão e bummm... Nos misturamos ao COSMOS. Pura propulsão.

Um bom dia...Um cheiro...Uma chama... E, de repente, o amor tomou conta do palco, se despiu de culpa e protagonizou.


terça-feira, 22 de outubro de 2019

FLOR CORALINA

Por Patrícia Leite
_ 21.10.2019 _






Uma nova estrada se abre alegre e displicentemente colorida. E a alma percebe, sorri, se deixa ir, compreende e esparrama novas sementes.

Assim o campo invade o asfalto e derrama pétalas sortidas. Recebamos esse jardim em flor como um presente do MENINO DEUS, nessa nossa segunda fase da vida.

Eu sei e você sabe que a poesia nos alcança, nos entende e nos invade a alma, como pólen carregado ao sabor do vento ou que caminha por meio do doce trabalho das abelhas e, por fim, fecunda.

De flor em flor, o pulso da vida segue saltando da estrutura masculina para a feminina. Mel de brincadeira.

Assim, bailando no ar, as abelhas promovem e reproduzem a sagrada centelha e geram frutos de melhor qualidade e mais sementes...

Nesse sentido, O AMOR deverá ser sempre o grão, a semente crioula que germina, que viola o solo, que rompe, que pontilha o mundo de cores, de beleza e de encantamento.

Assim sou eu, planta gota de rubra cor, rosa encarnada. É esse o tom afogueado de minha paixão em flor.

Menina que anda descalça, que brinca de pega-pega, de cabra-cega, de cavalinho, que come de palitinho, "que geme sem sentir dor".

Esse é o sentido maior da vida, a criança viva. Moça grande ou menina .... Sou eu botão de "rosa menina" que desabrocha.... Sou eu assim: Flor Coralina.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

CRÔNICA: MÚSICA, VINHO E CAFUNÉ


Por Patrícia Leite



Sábado, à noite, quando desci as escadas de minha casa, os ponteiros do relógio marcavam um quarto de hora depois das oito. Eu estava atrasada.

Ainda assim, detive-me um tempo a mais na escadaria e fiquei admirando as sombras e as luzes que a lua cheia projetava solene pelo cobogó. Era poesia platinada.

As luzes dos faróis, aqui e acolá, lançavam punhados de luz dourada. E era possível ver o dourado tirar a platinada para bailar entre uma passagem e outra dos automóveis.

E foi com esse espetáculo de luz e sombra ainda rodopiando na retina que eu entrei no carro e liguei o som.

O som rouco da voz de Maria Betânia interpretava uma canção de Dori Caymmi e Paulinho Pinheiro: “É o Amor Outra Vez”.

Um trecho da música invadiu meus ouvidos, meus pensamentos, minha alma e visitou meus sentimentos. Sim, era assim que eu me sentia.

“Quando o amor se hospedou, todo o mal se desfêz, toda dor teve fim, pois quem cuida de mim é o amor outra vez”.

No dia seguinte, muito cedo, eu tinha uma regata importante e o poeta uma corrida. Ainda assim, queríamos jantar juntos, ouvir música, rir, jogar conversa fora e dormir de conchinha...

Estacionei o carro embaixo das longas palmas do coqueiro que fica, exatamente, em frente a janela do quarto e de onde cantam os passarinhos, ao amanhecer, para nos despertar...

Como de costume, mandei uma mensagem: “cheguei! ” E recebi de volta a cordial resposta de sempre: “seja bem-vinda! ”

Uma deliciosa refeição à luz de velas nos aguardava harmonizando perfeitamente com um tinto vinho extraído de uma de minhas uvas prediletas: Anciano Gran Reserva – 10 Años Tempranillo, 2007.

Anciano tem um buquê singular. Mescla notas de café, chocolate ao leite e pimenta, em um fundo delicado de ervas.

Foi nesse cenário elegante, enfeitado com um belíssimo arranjo de flores silvestres, que ele repousou a cabeça em minhas pernas.

Seus cachos grisalhos enrolados em meus dedos exalavam um delicioso e adocicado cheiro de coco. Tudo era puro torpor.

No CD, Caetano, irmão de Betânia, cantava “Você é Linda”, com a mansidão de sempre.

Quando o CD parou, segui cantarolando e movendo vagarosamente os dedos entre aqueles caracóis de prata.

Um gesto intenso de carinho, doses cavalares de respeito, intimidade e amor: CAFUNÉ.









quarta-feira, 16 de outubro de 2019

ENTRE O AMOR E A MORTE HÁ UM HIATO IRREFUTÁVEL: O TEMPO


Por Patrícia Leite
– 16 de Outubro de 2019 –





















Aceitando a máxima de que o amor é o pulso vital de todas as relações e atitudes, percebo que há uma reflexão a ser feita, para além de toda obviedade que a máxima propõe. Mas falo por mim. É claro!


Quem quiser entender a minha proposta, embarque nessa nau comigo. 

A viagem não será em vão, garanto!

De certo que o ponto de encontro é o discurso e esse deve acompanhar a ação!

Apenas alerto aos tripulantes que saio do cais debaixo de uma enorme tempestade e com ventos muito fortes enchendo as velas dos meus pensamentos:

O que fazer no intervalo, no espaço que existe para navegar, para percorrer a lacuna entre o amor [pulso vital] e a morte?

A resposta que você dará a essa pergunta será determinante para que você viva plenamente ou arrastando-se pelas sombras à mercê do vento sujo, sem ajustar as velas ou mudar o sentido.

[...]

Num tempo não muito distante essa pergunta passou a ser o lençol que me cobria todas as noites.

Como tudo começou?? Explico!!!

Era domingo à noite, eu estava feliz com a velejada e, depois daquele dia inteiro de regata e uma vitória incrível, eu tinha planos mais tranquilos e relaxantes para depois da entrega das medalhas.

Desejava ver um filminho, comer algo leve e tomar uma taça de vinho. Todavia, o universo tinha outras organizações para aquela noite de lua cheia e céu estrelado. Surpreender era apenas uma parte do script.

Tínhamos combinado um encontro para as oito. Em razão do pesado trânsito, cheguei por volta de oito e dez. 

Já havia passado, mais ou menos, um quarto de hora das nove. O documentário já estava no ponto para começar a rodar. What Happened, Miss Simone? Uma produção de 2015 que eu simplesmente adoro.

Olhei a minha volta...

A meia luz preenchia agradavelmente o ambiente e Nina Simone enchia a tela com seu bocão e seu sorriso.



Fiquei sem graça de dizer que já tinha assistido, umas três vezes, o relato da vida real daquela cantora.

Afinal de contas, esse é um lindo filme, uma produção daquelas que você vê facilmente muitas vezes. E eu veria outra vez de bom grado, com enorme vontade, disposição e gosto.

Vale destacar que quando o filme ganhou o mundo, a crítica já dizia que era uma riqueza de trabalho. E é mesmo. Ostenta toda a grandeza da discografia de Nina e está recheado de gravações inéditas, raras imagens de arquivo e entrevistas fantásticas.

É um filme que, sobretudo, traz à tona o retrato de uma das artistas mais incompreendidas de todos os tempos.

Logo meu Poeta sacou que eu já tinha visto o documentário. Perguntou e eu confessei.

Ainda assim, assistimos o DOC por alguns instantes. De repente, ele me ofereceu uma outra película: “Beleza Oculta”. Um filme protagonizado por Will Smith e esse eu ainda não tinha assistido.


Vai rolar uma comédia, pensei. Bom também! Mas que nada. Eu estava redondamente enganada.

Howard – personagem interpretado por Will Smith –, neste filme, encena um personagem que está afundado em uma baita depressão, por ter perdido a filha de seis anos.

Descrente com o mundo, despois da perda da menina, ele passou a escrever cartas para o AMOR, para o TEMPO e para a MORTE.

A reviravolta do filme acontece quando “o universo” decide responder a essas cartas.

A Morte, o Tempo e o Amor, para dizer o mínimo, são incumbidos de ensinar a Howard e, porque não dizer, a todos que assistiram ao filme, o valor da vida.

Mas, especificamente sobre esse filme, para não dar spoiler, paro por aqui. A ideia era só contextualizar, organizar melhor o pensamento.

Quanto a mim e as minhas reflexões originais é importante dizer que elas foram impulsionadas com uma velocidade e uma força impensável, a partir do instante em que enxerguei meu modo de ver o amor [pulso vital] como argumento principal do filme. Proposta muito bem-posta, especialmente no trecho em que as cartas são respondidas pelo Amor, pela Morte e pelo Tempo.

O conjunto de todos os eventos do dia aprimoraram a minha forma de enxergar o mundo e me apontaram o Norte para que eu pudesse fazer o melhor percurso existente entre o amor e a morte. Cheguei a algumas conclusões muito importantes. A principal: o amor está em tudo.

A vida é fundamentalmente um ato de amor no sentido mais amplo. Envolve um bem-estar que está associado a uma busca por tudo aquilo que é bom e belo na maior e melhor concepção das coisas.

Quanto ao TEMPO VIVIDO... Sem amor não teria sentido ou valor. Portanto, nós nada seríamos. Mas isso não é novidade, não é mesmo?? A gente só não pratica, não exercita esse segredo vital.

O AMOR já tinha revelado, na Bíblia [em 1 Coríntios 13:2], seus mistérios. E eu os compartilho com você aqui e agora:

“Ainda que eu tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, eu nada seria”.

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terça-feira, 6 de agosto de 2019

NA BATIDA DE DOIS CORAÇÕES

Por Patrícia Leite  (Em 12 de julho de 2019)










 Quanto tempo leva para morrer o amor? Me perguntou aquela jovem, com olhos aflitos.

 A pergunta girou dentro de mim por instantes que me pareceram uma eternidade. Respirei profundamente, antes de responder com uma outra pergunta:

 Por que quer saber? Questionei, com acentuada curiosidade na voz.

 Todos insistem em dizer que não há amor que dure para sempre. Mas há, não há?

 Há! Respondi, sem hesitar.

 E qual é o segredo para fazer com que ele dure para sempre?

 Não há exatamente uma fórmula. Mas desconfio haver segredos e temperos.

 Sério? Quais?

— Bom, eu acho que o amor se alimenta do simples.

 Do simples?? Como assim?

 De pequenas coisas como, por exemplo, compartilhar pequenas tarefas. Cozinhar a quatro mãos ou preparar carinhosas refeições um para o outro...Ler juntos... 

— Mas todos dizem que a rotina mata o amor.

— Na prática seria descobrir juntos o prazer da companhia na realização das tarefas cotidianas. Se um faz o café, o outro põe a mesa. Se um lava os pratos, o outro enxuga... Se um vai ao mercado, o outro abastece o carro... Grosso modo, é ter cumplicidade e satisfação nas pequenas coisas.

 Simples assim?

 Não, não é simples. O cotidiano é ardiloso. Reinventar o dia a dia é parte do mistério, da magia. É preciso manter um estado permanente de alegria. Antes de qualquer coisa você deverá estar sempre em estado de riso. Esse é o tempero principal.

 Em estado de riso?? O que vem a ser isso?

 Minha avó costumava dizer: “Case-se com alguém que te faça sorrir. Um coração alimentado com alegria estará sempre alongando os anos de amor, postergando sua morte dia após dia”.

— Então, cedo ou tarde o amor morre?? Há mesmo um tempo de vida para o amor? O desespero estava estampado naquele rosto apaixonado.

— Eu não disse isso.
— Então, eu não compreendo.
A fala daquela menina apaixonada estava trêmula. Havia um certo pânico, um pedido de socorro, um imperativo. As notas de desespero alcançavam uma ou duas oitavas acima do tom natural daquela voz rouca, familiar e querida. Foi com uma dose extra de mansidão e amor que recomecei a falar:
— O tempo do amor é proporcionalmente vinculado ao saldo positivo do tempo que ele leva te fazendo sorrir e os tempos de tristeza. Pois que o amor é como uma balança de pesagem que deve pender para um dos lados com mais frequência e esse lado deverá ser sempre o das alegrias. Leve em consideração que o lado do riso, da alegria frouxa e da leveza devem pender em quantidade suficiente para neutralizar as angústias provocadas quando a balança pende para o lado dos dissabores. Os momentos que te fazem chorar te darão a certeza de que não vives uma fantasia, algo imaginário. Uma queixa aqui e acolá, uma divergência de opiniões e até uma lágrima que corre valoram a relação e dão a certeza que apesar de o amor bater em dois corações, em corpos diferentes, eles se alcançam, se complementam e se harmonizam.
— Mas há momentos e coisas que não sei como falar, às vezes, acho melhor não dizer, acho melhor me calar.
— Querida, dê especial atenção ao carinho e á cumplicidade que vocês estão construindo juntos. Com o tempo você vai aprender a conversar por meio dos silêncios. Os olhos dirão muito mais do que a boca ousa ser capaz de tentar expressar.
— Mas tenho medo que o fogo da paixão arrefeça! Disse ela, riscando a areia com os pés e desenhando arcos alados. Visto de cima, o desenho parecia asas de borboleta em pleno voo.

De olhos fixos naquelas asas, pensei que aquele amor era cada dia menos lagarta e cada dia mais panapaná. Nascia ali um amor verdadeiro, cuidadosamente cultivado. Naquela “metamorfose” – na transformação da amizade em amor   residia um dos segredos de como manter vivo aquele sentimento. Respondi:

— Quando discordar ou discutir deixe que os sentimentos que movem as sensações das lágrimas de uma saudade embalem o abraço do reencontro. 
Quando os ânimos estiverem muito alterados, coloque uma noite no meio. 
Faça do seu amor o seu melhor amigo. Durma juntinho, mesmo estando brava e mantenha as mãos enlaçadas, os pés de um roçando no do outro. 
Nunca se esqueça de agradecer as pequenas coisas que ele faz para você e por você. 
Quando se inicia um romance, não se deve ficar pensando em quando ele irá acabar. Viva cada encontro como se ele fosse o último. Viva-o intensamente. 
Lembre-se de que o beijo lascivo deve ser revezado com o toque suave e delicado sobre a pele. Pouse um beijo em seus olhos ao desejar boa noite. 
Não se esqueça de que o contato com a pele incendeia o corpo, mas que deve prioritariamente aquecer a alma. 
São deliciosas as noites de luxúria, mas as madrugadas em claro devem ter a mesma importância das noites bem dormidas. 
Nas noites frias empreste seus braços, caia em um abraço. Ah, o abraço... Quando sua cabeça repousar sobre a curva do braço dele e ele te abraçar de um jeito que você sinta que está segura, protegida... você saberá que aquele é o melhor lugar do mundo e ele também.   
Minha querida, não é no término do relacionamento que o amor acaba, mas antes: acaba no desenlace das mãos, quando não há mais boa noite... Quando você deixa de dizer: Sonha comigo. 
O amor acaba quando o egoísmo e o medo de amar são mais fortes do que a fé e o desejo de orarem juntos pela manhã.
O amor é assim, deliciosamente imprevisível... Por isso, encontre beleza na imperfeição um do outro. Tomem banho juntos, dancem de rosto colado, escrevam bilhetes e cartas de amor, sentem para o café da manhã pelados, cuidem um do outro, chorem e riam juntos, viagem o mundo mesmo estando na sala de casa. Sonhem, mas não se esqueçam de viver o agora. 
O amor é isso... Uma urgência do estar no presente... Amanhã?? Não há amanhã sem hoje. A vida é agora. O amor também. 
Ela sorriu e seus olhos se iluminaram. Ela havia compreendido.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

À MESA, COMO CONVÉM


Por Patrícia Leite

















Quando finalmente tivemos a coragem de colocar um fim naquela relação que vinha sendo forçadamente aquecida em banho-maria, numa tentativa inútil de manter vivo o que já estava, há tempos, gelado como cadáver, mergulhei nas águas da solitude, me perdi em correntezas de vazios e estranhamentos. Mas deixei a força do rio me levar.

E como todo rio corre para o mar, pude ver os sedimentos amealhados ao longo do curso de minhas águas e meus seixos:  fragmentos de acordos, cascalhos de hábitos, calhaus de amor. Quando se vive muito tempo imerso num pseudo-relacionamento é difícil abrir as comportas, deixar ir.

Eu estava atormentada, brava comigo mesma, por ter demorado tanto tempo empurrando o inevitável com a barriga. Eu parecia mar de ressaca. Os nervos eram como ondas violentas estourando na areia.

Por anos, eu havia abandonado a minha própria natureza de ser. Eu estava quebrada como ondas raivosas. E esse mar revolto invadia a minha urbanidade e destruía todo verniz social que me fora imposto. Quanto tempo desperdiçado. Esse era o meu cenário interno. Destroços. Uma visão aflita do que foi, do que não deveria ter sido e que não poderia ser modificado.

De repente, me percebi. Eu estava, pela primeira vez, batendo suave na areia, como o mar em maré baixa, em dia de pouco vento e céu de brigadeiro. Os azuis se tocavam, o do céu e o do mar. Um estado de autocontemplação do oceano que há em mim.

Estávamos acostumados um ao outro, velhos hábitos e recordações, mas o amor já não era mais um prato saboroso à mesa. Era um prato frio e ensosso.

A frase sentença da cantora Nina Simone rodopiava em minha mente: “Você tem que aprender a levantar-se da mesa quando o amor não estiver mais sendo servido”. Ela estava certa. Não havia mais sentimentos ali.

Quando emergi daquela zona abissal do costume de estar junto, deixei de cometer “gafes à mesa”. Me retirei. Finalmente, eu estava novamente viva, plena.

Por quê?? Porque não nasci de forja morna. Sou ferro em brasa. Sou como o aço de Damasco –  forjada em altas temperaturas para ser lâmina de espada de borda afiada e resistente, com faixas e manchas que lembram fluxo de água.

Por que a vida é isso: alta temperatura, resistência, fluxo, um fio.

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