Por
Patrícia Leite
E
repetiu a
expressão apertando
ainda mais a
minha
palma
sobre o seu peito:
aqui, oh! Dentro
de mim, chove
e faz sol!
Os
olhos estavam marejados...
–
Olhei,
apenas por
um instante.
Depois,
gracejei para aliviar a pressão: Sol e chuva? Casamento de viúva!
Ri
um sorriso torto...
Esse
era um maneirismo nosso para dizer como nos sentíamos naquele exato
momento. Uma
espécie de previsão meteorológica dos sentimentos e
do estado de espírito.
–
Nesse
instante,
um arco-íris risca o céu, de fora a fora, disse
eu
com
um tom de voz que remetia a esperança de dias melhores.
–
E
há
sempre um pote de ouro no final do arco-íris, não
é mesmo?
Ele
estava triste e eu não
estava diferente dele.
Era hora de dizer adeus...
De
repente, estava eu também fazendo a previsão do meu clima interno.
Refletindo
sobre o meu próprio discurso positivista, me dei conta de que o
incrível arco colorido não estava a revelar apenas seu espectro
contínuo e exibicionista de várias matizes.
Revelava
algo que não era dito, mas que estava ali. Era tudo, menos colorido
do que desejávamos que fosse.
– Acho
que as dores são sempre desprovidas de cor. Me parecem ser sempre
descritas em preto e branco, disse eu a ele, em um tom mais
melancólico do que gostaria.
Não
sem pressa estava eu
analisando
o fenômeno em si. Lembrei da minha professora do primário
explicando: o
sol quando brilha sobre as gotas da
chuva revela multicores
que vão do vermelho ao violeta.
No
meu caso,
o
sol sobre as gotas de chuva revela
cores
que
contrastam
com
os
vários tons acizentados em que repousa o meu
próprio
caos.
Em
meus devaneios, eu
já não o ouvia mais. Ele
estava confuso e eu também. Sequer tínhamos a real noção do por
que
estávamos dizendo adeus.
Todo
aquele palavrório
era um zumbido distante que se somava ao
meu emaranhado de
sentimentos e
ideais.
Não,
eu não estava
completamente em paz com as incertezas do futuro. Mas
precisava
aceitar o novo, o desconhecido. E, sim, eu posso
receber a vida, de braços abertos, com tudo o que ela tem pra mim.
Dizer
adeus é sempre esquisito.
Sempre
é!
Virei
sobre os calcanhares e comecei vagarosamente a me afastar. Já
tínhamos tido aquela conversa antes e
não tínhamos chegado a lugar algum.
Olhei
sobre os meus ombros e apenas balbuciei: Talvez um dia eu possa te
falar do amor que tivemos...Talvez...Um dia, quem sabe?
Agora,
eu entendia Vinícius de Moraes. “Que não seja imortal, posto que
é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.
Uma
lágrima me embotou a visão e todo o colorido subitamente virou
aquele
cinza
escuro
dos
dias de temporais.
Sim,
durou o tempo infinito que tínhamos um para o outro e enquanto
éramos o resultado da soma de nós dois, fomos multicor. E ainda
poderemos ser… Quando formos sol nas gotas de outras chuvas, para
além de nós.
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