Por Patrícia Leite
Sentou-se no terraço daquele antigo hotel e logo suas narinas se impregnaram de maresia. A noite estava calma e um caco de lua se deixou ver.
Prateada apareceu a lua timidamente naquela noite de outono...Mostrou-se, mesmo que pouco, porque foi encorajada pelos cumulus ninbus que bailavam a sua volta. Embriagada de memórias, ela, a lua, cobriu sua nudez e sua vergonha num retalho de nuvens e veio render homenagens aquela mulher.
Não fosse pelas duas ou três taças de vinho e por estar a observar a suposta timidez da lua, ela talvez não tivesse se lembrado das promessas que trocara na última vez em que ela, a lua, esteve cheia.
Estava envolta em suas lembranças quando uma brisa leve pois seus cabelos em desalinho, arrepiou-lhe o corpo e assanhou seus pensamentos. Seria possível cozer sentimentos esgarçados ????
Dias antes, tendo apenas os astros por testemunha, ele declarou seu amor por ela e partiu sem olhar pra trás. Abriu mão do que sentia por ela e foi descosturando aquele pano especial que os envolvia e os aquecia.
Eles tropeçaram uma vida inteira na barra de suas próprias desventuras...Fizeram casas, e vincos a partir de seus equívocos. Alinhavaram histórias sem sentido. E agora que aprenderam a tecer juntos um pano capaz de transgredir o tempo...abandonaram a linha.
Com medo de dar um ponto, de arrematar com nó, eles se largaram no palheiro da vida. E a agulha que vinha pouco a pouco cozendo a alegria entre eles desapareceu. Arrastado pelas pedras do caminho o tecido puiu, desfiou...furou, esgarçou, rasgou.
Era possível ainda particionar o que restou do pano, bordar, juntar os pedaços e artesanalmente unir novamente aquela matéria prima e com sabedoria fazer uma colcha dos retalhos??
Sim...Porque pouco a pouco descobriram que separados eles eram apenas pedaços, mas juntos eles são a verdadeira arte. Tecido produzido somente pela máquina do amor.
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