Fotografia: André Meireles Abreu
A
lua estava redonda, cheia. Estavam cheias a lua e ela. Ela cheia de
gente chata e a lua cheia repleta de admiradores e suspiros.
Contrastes...
A
música que vinha do Bistrô enchia o ambiente de aconchego e
derramava um clima de romance no ar. Os casais de beijavam e
fotografavam a prateada bola de luz que pululava na escuridão do
céu.
Mas
ela não estava para climas de romance. E para ela a noite havia
chegado ao fim. Detestava abordagens ostensivas.
Sem
o menor pudor, ele encarou-a novamente nos olhos e sustentou o olhar,
ergueu uma das sobrancelhas, ofereceu um sorriso e ergueu um brinde.
Ela, mais uma vez, ignorou.
Bebeu
uma última taça de champagne
com
as amigas e perguntou:
–
Como
me livro deste chato?
Fizeram uma enquete entre os amigos e
riram muito das respostas que variaram do bica de uma vez o sujeito
ao dá uma chance pra ele...
– Ele
tá vindo pra cá, disse uma delas.
– Finge
que não tá vendo, disse a outra.
– Vou
embora! Depois acerto minha parte com vocês, ok?
– Ok,
exclamaram em uníssono!!
Andava
lentamente até o carro quando sentiu aquela mão impedi-la de dar
mais um passo.
– Não
vá!! – Fique mais um pouco!! Falou aquela voz grave, do alto dos
seus quase 2 metros.
– Um
metro e meio de puro atrevimento e valentia indígena deu-lhe, com
uma voz um tanto mais alta que o normal, uma ordem:
– Por
favor, solte meu braço!!
Ele
soltou, não sem antes depositar um pedaço de papel em suas mãos.
Olhou-a com aqueles enormes olhos azuis e disse: “só quero a
chance de te conhecer melhor.”
Mais
uma vez ela o ignorou. Entrou no carro, ligou o som, mergulhou na
melodiosa voz de Nina Simone e desceu a rua. No banco do carona a
bolsa, um número de telefone e um poema escrito em um pedaço de
guardanapo.
Por
alguma razão que não soube explicar, olhou pelo retrovisor e lá
estavam aqueles olhos azuis, a lua, a poesia de um momento e uma
promessa velada.
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