por Patrícia Leite
Carregava no pescoço um relógio que,
conforme a candência dos quadris, pendulava mais lento ou mais
rápido. Esse balançar dava-lhe a falsa sensação de controlar o
tempo. Mas esse continuava implacável na contagem regressiva e
tiquetaqueava o "semitom" de seu próprio definhamento biológico.
O tempo não é
justo. Em detrimento da vontade e da ciência, o tempo não é
regular. O tempo é relativo. É lento durante as tormentas e
ligeiro, muito ligeiro quando se trata dos momentos que queremos
perpetuar.
O
tempo, quando é intempérie, é inimigo discreto e exaspera a alma
em compassos de pulsos e repousos dramáticos. O tempo eviscera
os mais fracos e ostenta os nossos diabos interiores. No contratempo
do tempo estão os anjos que esperamos que um dia nos salvem. Mas
tudo isso somente no tempo que o tempo quiser.
Sem tempo para o
tempo preguiçoso e na ânsia de tudo sorver, há dias em que queimo
as passarelas de contato. Em outros, quando me esqueço do quanto o
tempo é desonesto e sorrateiro, construo pontes sólidas por cima de
rios caudalosos e passeio sem me lembrar da pressa do tempo.
Mas, diariamente,
entre um tic-tac e outro, renovo sonhos, busco novas estradas, corro
o mundo. Algumas vezes só. Em outras, bem ou mal-acompanhada. O
importante, porém, é o movimento. É. construir, desconstruir,
começar de novo e driblar o tempo que o tempo pensa que me resta.
Porque no fim das contas, quando o tempo atinge o apogeu da própria
finitude o importante é o percurso, a trajetória, a linha descrita
por um ponto material. O eu em movimento.
Importante é
constatar que usamos o tempo bem. Fizemos pausas para enxergar o
outro, paramos para um abraço amigo e para dar um beijo. O
importante é concluir que estagnamos o tempo todas ás vezes em que
o dedicamos ao amor.
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