Por Patrícia Leite
VONTADE de levantar da cadeira, colocar
uma mochila nas costas e colocar o pé na estrada ao som de Eddie
Vedder. Por quê? Porque há horas em que todos os espaços são
pequenos, estreitos, fétidos e sufocantes.
Porque tenho vontade de SUBVERTER... De
dormir sob as estrelas, de nadar em rios turbulentos –
super bem-vestida de nada, coberta
apenas pelos meus próprios pelos.
Alguns dirão que isso é o sangue
índio gritando por liberdade. Mas há tantos PORQUÊS...
Porque quero saltar de cachoeiras,
velejar no mar, subir montanhas, descer penhascos, almoçar em
cavernas, nadar com golfinhos, chorar PRETÉRITOS e seguir em frente.
Conceitos, preconceitos, conduta,
ética, moral, hábito, regras, leis...ORDEM.
Ordem de quem, minha gente?
Estabelecida por quem, minha gente? Nasci de um parto normal, de uma
mulher normal, em um lugar normal, em uma cidade normal. Encarnei
desnuda e descalça. SOZINHA.
Plantei árvores, tive filhos, escrevi
um livro. Justifiquei, segundo dizem, a minha EXISTÊNCIA. Mas nunca
nadei no mesmo rio, porque o rio corre e se transforma a todo
momento. Nunca andei na mesma estrada, porque até as pedras se movem
e modificam seu lugar de origem.
Nunca estive com os mesmos amigos...
Porque pelas mesmas razões que as minhas e por tantas outras eles
também se [re] inventam e se tornam outros a todo momento. Porque
quando encontro os “velhos” amigos, faço amigos novos, e faço
isso todos os dias, há meio século, ou seria um século, ou alguns
milênios?? Não sei. Todos os dias, sou alguém novo. Mas sou um
alguém que aprendeu a rir dos arranhões, das CICATRIZES, dos
desastres.
E quando eu voltar desta grande
mochilada que iniciei esta manhã, quero sair VESTIDA apenas de
minhas próprias histórias, calçada com as experiências das
derrapadas que dei. Mas também quero sair da pista...Desta vez, mais
consciente, mais em alta velocidade, rumo ao desconhecido...Quero
trombar com a experiência daquele outro que não me habita e me
renovar.
Porque descobri, a um certo tempo, que
para ser feliz é preciso estar VULNERÁVEL
ao que tiver que vir. Não
dá para
“viver a vida” sem adentrar a dura selva de pedra em
que transformaram nossos corações desapontados,
traídos, enganados... Não
dá para “viver a vida” ressabiada,
recolhida, enclausurada,
ensimesmada como cadela
mordida de cobra que não
pode ver linguiça que corre com medo.
PORQUE
“Sociedade
realmente louca espero
que não esteja solitária sem mim” durante
a minha ausência nesta engrenagem do acaso e do caos.
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