quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

ASAS DA POESIA

Por Patrícia Leite 
[19.1.2022]

Foto: Patrícia Leite













Seis da manhã. Acordei. Abri os olhos lentamente e pela fresta da cortina do nosso quarto vi um arco-íris “aprisionado” nos vidros das janelas.

Os mais céticos diriam que era apenas os resíduos do  limpa-vidros que passei na vidraça no dia anterior e que não havia sido removido devidamente.

Prefiro pensar que o tal fenômeno óptico de sete cores que flanava em minha janela era mais do que a refração das infinitas gotículas mergulhadas nos raios de sol... Era o revérbero da luz dos poetas. Arco-da-aliança dos amantes.

Nesta casa moram dois poetas, no mínimo. Vivos e atuantes. Mas é bom que me apresse em dizer que a biblioteca da sala está cheia de gigantes que nos inspiram.  

Fernando Pessoa, Eduardo Galeano, Manoel de Barros, José Saramago... Preto e eu voamos nas asas desses monstros sagrados da poesia.

Sempre estamos nesse voo. Céu de brigadeiro. Acreditamos que a poesia salva. E salva mesmo. Não tenho dúvidas.

E é lá – no último andar do prédio em que moramos –, que fica nosso céu particular. O verdadeiro céu da cidade. Não tem erro. É só seguir as placas...

Antes mesmo de terminar de subir as escadas, de ir de um andar para o outro, a sinalização já pode ser vista. Sim, o céu é aqui!

E é do nosso “MARCÉU” que se avista o ”hipotético painel” de chegadas e partidas imaginárias. Caldeirão de ideias.

E é da cabeceira de “Águas Claras”, dessa pista enigmática dos sonhos, que taxiamos antes de partir para nossos voos.

É de lá que nos alvoroçamos a bater as asas juntos... Ou que apenas nos permitimos ficar imóveis a planar com elas abertas sugerindo sombras e contrastes distintos.

Mergulhei no mar...

Levantei a cortina. Escancarei as janelas. Olhei a vastidão. A luz refletida nas asas do grande pássaro prateado cruzava o ar e espelhava as nuvens e os azuis.

Arribando... Arriando... Arribando... Arriando...  Até sumir numa espumosa nuvem branca, na areia do céu.

Parecia mesmo um mar se quebrando em ondas verticais por sobre os verdes das copas das árvores.

Deu-me vontade de surfar naquela onda anil. E eu voei. Porque eu quis e porque eu tenho um céu só pra mim.

Olhei pra cama. Ele ainda estava adormecido. Tornei a olhar para o lado de fora. Decidi.

Vou deixar para sempre de remover os resíduos do viscoso limpa-vidros.

Salve, salve ARCO DE ÍRIS! Eu quero é crer na junção perfeita de água e luz.

Agradeço-te Íris. Mensageira divina – mitológica deusa grega –, que há de sempre deixar atrás de si um rastro multicolorido em nossa janela.

Porque minha poesia assim o quer e porque na minha vida não há espaços para os dias sem cor.

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2 comentários:

  1. Ah, meu amor, minha Preta! A poesia, de fato, permeia a nossa vida e nos salva. Atravessamos tempestades, vencemos banzeiros e desfrutamos da calmaria sempre que alcançamos o nosso "Céu de Brasília". Há companhia melhor para essa aventura celestial do que a tua? Eu duvido!

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  2. Muito lindoooo, tudo que escreve e transforma em tão belas poesias,parabéns 👏👏 ❤️ fascinante!!

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