Por Patrícia Leite
Fotografia: Fernando Alves [15.11.2015]
O Relógio tocou, às
4h da matina e, apesar de ter ido dormir às 2h, ela – que tanto
detestava acordar cedo –, levantou cantarolando. Estava alegre,
ansiosa e animada. A vida estava no ritmo de sua urgência, pensou.
Sim, ela tinha
pressa em ser feliz. Jogou de lado as cobertas, vestiu-se
rapidamente. Em poucos minutos, estaria nas entranhas da terra,
vasculhando, se entrometendo, interagindo.
O sol apareceu
acanhando, entre as nuvens, por volta das 5h30, borrando o céu com
tons que variavam do amarelo ao vermelho. Uma chuva fina e um vento
frio chegaram de repente para colocar em xeque a empreitada do dia.
Olhou a volta,
analisou as nuvens, as condições de vento, calculou mentalmente e
concluiu: Sim, teria cerca de 8h até que o temporal caísse.
Estacionou o carro
no ponto de encontro, cumprimentou os companheiros de exploração e
se juntou aos demais membros da equipe. Desta vez, foi sentada no
banco detrás do carro e seguiu tecendo conversa fiada com dois
desconhecidos. Logo, sentiu-se entre amigos.
Todos seguiram
falantes pela BR-020, por pouco mais de uma hora. Mais ou menos uns
120 quilômetros depois, fizeram uma parada para tomar um pingado e
comer um pão de queijo recém-saído do forno. Um friozinho
correu-lhe a barriga. O destino final estava próximo – Caverna da
Jabuticaba.
Sabia que o local
ficava logo depois de Formosa-GO, no Distrito de Bezerra, e que
teriam que rodar ainda um trecho pela GO-468 até chegarem a
mineradora Santana, extratora de calcário e brita, e ponto de
partida para um novo dia de aventuras. Ao chegarem na mineradora,
caminharam por cerca de meia hora até que todos alcançassem a
entrada da caverna.
Ela sabia,
antecipadamente, que enfrentaria 1.674m de extensão, por debaixo da
terra, segundo a Sociedade Brasileira de Espeleologia. E passaria por
vários salões, um deles com aproximadamente 12 metros de altura.
Também se preparou para os locais nos quais seria necessário passar
só com a cabeça de fora d'água, há um palmo do teto da caverna.
O que ela não sabia
é que a maior parte do percurso seria realizado dentro d'água, que
em vários momentos o trecho seria profundo demais e que ela teria
que nadar numa água extremamente gelada por longo tempo.
Em benefício da
verdade, todos tinham sido avisados que a água era fria, que em
alguns trechos do lençol ela bateria no teto e que seria necessário
mergulhar para passar para outro salão. Mas entre a teoria e a
prática há uma grande diferença. E nem bem a expedição
começou...Alguém reclamou que estava entrando em hipotermia. Um
certo exagero, é claro!!
Mas como se tudo
isso fosse pouco... Ela descobriu aos 47 do segundo tempo, que só
havia um jeito de sair dali. Teria que engatinhar sobre os detritos
vegetais, abrir espaço entre os galhos, folhas e troncos para
finalmente, na garganta da caverna, ter que se lançar no vazio.
Sim, no fim da
caverna a única forma de voltar para trilha é saltar de um barranco
com de cerca de 6 metros de altura, porque não tem como descer
escalando, para cair por um tempo que parece uma eternidade dentro de
um lago chocolate.
[…] Olhou para o
alto, pediu proteção ao pai e saltou. O tempo pareceu não ter
pressa, até ela emergir daquelas águas...
Uma chuva fina
começou a cair novamente, o céu estava negro e anunciava que o
temporal estava próximo. O cheiro de terra molhada e o perfume
adocicado da jabuticaba encheram o olfato, bateram no céu da boca,
deslizaram pelos pulmões e, ao final de todo esta explosão de
sensações, o corpo suspirou, relaxou e entrou em equilíbrio.
A adrenalina agora
era apenas uma lembrança boa. Mas viciada em adrenalina, fechou
lentamente os olhos, degustou por mais um instante aquela sensação
de prazer extremo e começou a desejar o próximo encharque de
êxtase.
Muito bom, é impressionantes o seu talento para a escrita, parabéns!
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