segunda-feira, 18 de outubro de 2021

FLOR DE LÓTUS & FAROL

Por Patrícia Leite 
[18.10.2021]




Longe dos olhares curiosos da cidade, longe de tudo renascia ela; trêmula como flor imaculada que desabrocha sobre a água em busca de luz.

Seu rosto exibia promessas límpidas e puras de absoluto enlevo. Seus olhos... Janelas que desnudavam o sagrado. Sim, metade dela era fé. A outra metade... carnaval, festa profana. O corpo... Esse ancorava os dois lados, unia seus polos. Tudo era [des]arrependimento. 

Não, não é segredo, todos sabem que desejo é como faca afiada que corta o cabo de atracação e deixa o barco ir correr mundo... 

Desejo é ficar, mas é também partir.  É “[re]entrar”... é  “[re]sair”... 

Chegadas e partidas... Perto e longe... Um pensamento fortuito... Águas...Todos os nossos rios buscavam o mar...O mar de nossa casa primal...

De repente, um relâmpago, um trovão... Depois do clarão, tudo era breu. Nenhuma estrela salpicava o céu. 

Sons... Silêncios...Compassos...Tambores... Corações unidos à chuva que caia alegremente fazendo graça e batuque no peitoril. O vento cantava... 

Nós dois? Carnes  vibrantes, sons envoltos em melodia particular...

Estávamos sozinhos no mundo. Naquela “fatia de mundo”— ele e eu – somente nós dois ao alcance da esmaecida luz do farol. 

A chama elegante que bailava do “candelabro Flor de Lótus” veio se juntar a nós. Desavergonhadamente aquela labareda era como língua de fogo a dançar vertiginosamente na escuridão da nossa “cabine”.

O fogo deitava luz e sombras sobre a flor sem perder de vista a translucidez de quem nasce planta aquática e floresce sobre água. 

O farol!? Ah, o farol... Aquele ponto luminoso e norteador que nos conectava com a mãe-terra e dourava aquelas peles negras e arrepiadas trazendo visão, verso e charme aos sentidos mais primitivos. 

Todas as “luzes” estavam miscigenadas... O sal escorria dos poros e os olhos tinham o brilho da paixão visceral própria de quem encontra porto. Nem sempre seguro, mas sempre porto. 

Tudo era perdição e encontro... A coroa vermelha de nossos arrecifes, nossos corais cor de carne deitados sob a sombra memorial da “árvore” da vida. 

Tudo era presença, conexão, alegria e poesia...E essas são as nossas luzes! Sempre!


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5 comentários:

  1. Ah esse farol,que luz e como sabes a flor de lótus floresce no lago sujo ,tão linda junção,vc é fera ,muito bom

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    1. Sim, ela nasce em água doce e lodosa. Uma iguaria na culinária chinesa. Alimento físico e tb espiritual. No budismo, o seu significado mais importante é o fato dessa flor representar a pureza do corpo e da mente. Um contraponto… A água suja é associada ao apego e aos desejos carnais.

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    2. Grata pela gentileza de deixar um comentário.

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  2. Essa conexão linda que de longe ilumina quem passa perto.
    Belo texto.🙌

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    1. Thais uma alegria ter um comentário seu no meu Blog. Muito obrigada!!😘😘😘

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