sexta-feira, 12 de junho de 2020

BARAFUNDA

Por Patrícia Leite 
[12 de junho de 2020]




















O sol acenava manhoso com preguiça de ir embora. O ar estava “borrado” de alegria... 

Éramos, os dois, ele e eu, a pincelada de tinta necessária para enfrentar a ausência de cor daqueles dias.

Olhei para ele e aqueles olhos escuros denunciavam que — por trás daquela máscara —, havia um sorriso largo de gente feliz e contente com a vida... 

Não importava o quanto o mundo estivesse do avesso...
















Sorri de volta, eu também me sentia plena — em ritmo de poesia. Era “um estado de ser”... Era uma alegria incontida. Era verso!!

De olhos postos no horizonte paramos o carro e descemos...

Dali de onde estávamos, podíamos ver margeando toda a estrada uma grande tela, possivelmente o mais belo de todos os quadros que eu já tinha visto até aquele instante.

Naquele dia — diferente das outras vezes que por ali passamos —, apesar da correria e do trânsito intenso, foi possível parar por um átimo de tempo e registrar — com um simples “clique” —, uma das muitas obras do criador: 

"O crepúsculo"













Sim, aquele pôr do sol era mesmo uma aquarela repleta de tinta. Muitos amarelos, laranjas e vermelhos contrastavam com um azul profundo — uma espécie de mescla acinzentada.

Sim, eram CORES VIVAS “sobre dias cinzas”...

Não externei, mas o cenário me trouxe lembranças de uma das muitas perguntas de minha meninice:

[...]

— O amor tem cor?
— Sim, tem!
— O da pele dos enamorados?
— Não, claro que não!

[...]  

Nas minhas conversas internas de menina-moça, nos meus debates mais secretos me meti a tentar explicar o amor para quem jamais tinha si sentido amada... aliás, melhor dizendo, para quem ainda não tinha sequer provado o amor.

Numa espécie de tentativa e erro, tentei esboçar o amor... Tentei explicar seu tamanho, complexidade e significado...

Comecei por “rabiscar” – fiz um croqui. Empunhei lápis e papel e desenhei uma boca...



















Depois, dei pigmento... E ofereci uma multiplicidade de bocas enrubescidas...
















No fundo eu estava tentando mostrar que o amor é como uma música alegre e que as notas de amor cruzam os lábios, por meio da fala...

Mas me dei conta de que as palavras não tem força suficiente para descrever o amor.

Olhando para o papel vi dançar beijos em Preto & Branco. Eu os sentia encarnados, escarlates...rubros como fogo que arde e queima...Beijos acesos como labaredas... 
















Visão colorida da “descoloração”: confete de carnaval... Serpentina...

O amor é o tambor do peito, pensei... é ritmo, percussão da alma e do coração... 














O amor é também descompasso...
















Pensei que se as palavras e seus melódicos sons não podiam explicar o amor...Talvez os sinais de pontuação soubessem e me ajudassem a explicar...Tentei!

Pretendi dizer que o amor é como o travessão [ — ]. Um sinal geralmente usado no início das falas no discurso direto, mas o amor não é exatamente um discurso direto...ao contrário, é sinuoso.













Um sinal gráfico não serviria para tentar dar uma explicação...
















Tentei outro caminho... 


















O amor tem cheiro e sabor...
















O meu, por exemplo, cheira a bem-estar e tem o doce sabor de frutas frescas, de caqui — fruta beijo.





Eu tentei mil estradas para explicar... Andei... Retornei... Recomecei... O amor é macio... 






















Mas apesar de afável é também petulante, agressivo...





















É manso, mas é também desaforado...

De repente, me dei conta que eu estava andando em círculos, dando voltas e pausadamente sentenciei em voz alta:

— Se você não conseguir explicar com palavras, com gestos e toques, com sabores, cheiros e imagens e ainda assim persistir tentando...
















Se você não consegue aprisionar em uma única definição ou em várias...

Se não consegue dar dimensão e ainda assim você quer por perto, mesmo deixando-o livre, mas também não pode sequer pensar em deixa-lo ir, se ele te é essencial... 

É AMOR!!

Celebrem... Levantem-se de madrugada — sem motivo especial —, apenas para conversar, ficar abraçados, fazer um cafuné, ouvir música, ver um filme...Rir...

Sempre que possível, caminhem lado a lado, andem de mãos dadas, gargalhem juntos até perder o fôlego...

Tenham opiniões iguais e tenham opiniões diferentes. Troquem impressões... Conversem... Se preciso, voltem um pedaço... Sigam por caminhos novos e também pelos usuais...

Se arrisquem...Se joguem...
















O amor é toda essa confusão... fogo no parquinho... Desassossego... O amor é uma grande aventura de sentimentos múltiplos... O amor é algazarra...É alvoroço...É barafunda... Não cabe em definição alguma... 


Então, simplesmente ame e se permita!!





#barafunda
#amor
#alegria

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