sexta-feira, 5 de junho de 2020

AMPULHETA SINESTÉSICA

Por Patrícia Leite

















As folhas do coqueiro balançavam suavemente do lado de fora. Poderia ser um dia qualquer como tantos outros, mas não era. Tudo era distanciamento... Ausência de contato... Solidão...

Mas, apesar disso, contrariando a ordem vigente, as longas folhas pinadas se sobrepunham, roçavam umas nas outras e farfalhavam como crianças alegres...

Na copa do pé de coco, o vento lançava-se desavergonhadamente e tomava nos braços, tirava para bailar as longas e delgadas folhas. E, ao rodopiar – vento e folhagem –, permitiram que meus olhos atentos entrevissem pequenos FRUTOS...

Sementes da vida... Era um balé verde e amarelo, quase um verde-dourado exibindo-se. Por baixo e por entre as “palmas” pendiam novos coquinhos... A vida pulsava, apesar de tudo e daqueles dias estranhos...

O vento soprou novamente e ainda mais forte, era vento de alvoroço, de inquietação, de entusiasmo... Era também prenúncio de chuva... Ou, pelo menos, parecia ser.

As folhagens seguiam se jogando umas sobre as outras e se abraçavam e assim como as crianças de outrora, elas – as folhagens –, pareciam poder aglomerar risadas e “brincar de montinho”... Faziam jogos de acolhimento, brincadeiras de natureza social...

As risadas e as brincadeiras já não eram mais das crianças e nem podiam ser... Essas estavam em casa... As “risadas” eram das folhas... Da natureza...Da vida que seguia seu curso sem “distanciamento”...

Uma nova lufada de vento fresco entrou sem convite pela janela do quarto e um quero-quero pousou na janela. Com seu penteado garboso e todo empertigado se pôs a cantar.

Corri para pegar o celular, mas antes que eu fosse capaz de abrir a câmera fotográfica ele voou.

Olhei para o relógio, 16h16min. Não resisti a provocação e brinquei sozinha “o jogo da sorte dos números repetidos”. Fechei os olhos e fiz um pedido...

Tudo repentinamente era apenas um emaranhado de sentidos e sensações: “Vi sons, senti o gosto das cores, toquei os sentimentos, inalei a plenos pulmões a esperança e por fim ouvi as promessas do silêncio”...

É... É isso mesmo, pensei!! Já não SOU nem prosa e nem verso... ESTOU poesia – SINESTESIA!




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