Por Patrícia Leite
Por aqui, os dias terminam tarde. O sol, com preguiça de ir se deitar,
reluta, não deixa o dia amornar.
O astro rei, se veste de vinho, antes de ir, "ROJO" - como
dizem por aqui. E eu que não gosto de vermelho, me entrego. É lindo. O sol
percebe. Danado como criança sapeca
incendeia a cordilheira e parece sorrir da forma como escorrega pela encosta.
Um tobogã natural. Tudo nos convida a brincar. O fogo de seus raios, parecem cabelos e sua luz lambe os ANDES pelo
máximo de tempo que pode e tudo isso me aquece, penso enquanto admiro todo
aquele rubro incandescente.
[···] Fecho os olhos... Me vejo em um turbilhão.
De repente, sinto uma respiração cadenciada em minha nuca.
E aquele hálito familiar me envolve, se enrosca em mim, em minha pele e
aí já não sei mais dizer se é o pôr do sol ou o toque encarnado daquela boca em
meus ombros nus que me faz voar.
Fecho os olhos e escuto o mar de Isla Negra batendo escandaloso nas
pedras.
A cama posicionada a contravento revela a proa do barco. E eu sou a
capitã.
De repente, somos pipa... De repente, voamos nas asas das borboletas,
nas fumaças dos cachimbos, no vento que tremula a bandeira, no arco-íris que
risca a ventana da casa de Pablo.
Somos relicário e a casa vira céu.
Os anjos pendem do teto e nos olham. Revisito o passado... Olho para o
futuro... Tomo o leme e mudo a rota do destino.
O improvável acontece... Estamos juntos no mesmo barco, no vendaval e
na calmaria. Abro os olhos... Retorno daquela NAU em teus braços. Cansada, feliz e
solta.
Livre corro sobre um barbante que me leva ao seguro voo do papagaio.
A poesia está mesmo na brisa, está igualmente nas ventanias... A poesia
está em nós.
Súbito me dou conta... É real.
Nenhum comentário:
Postar um comentário