Por Patrícia
Leite
A
sociedade contemporânea está mediada por excessos – orientada por
hipertextos cênicos e emaranhados de telas que perderam o sentido
original ou simplesmente nada mais expressam.
Quem
confere significado verdadeiro às figurações é o observador
comum, e, este, praticamente, inexiste. O exagero de imagens
confunde, anula e automatiza os modos de ver. Em outras palavras, a
sociedade pós-moderna esqueceu-se do que é o olhar e perdeu-se de
si mesma.
Pitorescas
cenas do dia a dia passam despercebidas em meio ao olhar tedioso da
multidão. A vida competitiva e efêmera, dos grandes centros, não
deixa lugar para a observação natural. E, a chamada "era da
informação" de que matéria é feita?
Esta,
sem dúvida, é representada por um modelo midiático que oferece
espaço, apenas, ao show, ao horror, a corrupção, a violência.
Quase todos os espaços estão absorvidos pela espetacularização,
embora muitas vezes disfarçados.
Comportamentos
modelos não têm lugar nos fatos noticiosos, tampouco na existência
das pessoas. Ninguém mais se preocupa com nada que não circunde o
próprio umbigo. Os narcisos proliferam por toda parte. Os românticos
são repelidos a todo o momento.
Ainda
resta espaço textual de expressão para as minorias engajadas? É
possível. A crônica – gênero literário livre –, captura por
meio do interlocutor o que o capitalismo, antropofagicamente,
arruinou.
De
certo, que o testemunho histórico e o depoimento subjetivo do
cotidiano dissipam-se na fruição do pensamento professado. Mas isto
é diferente de engolir o homem, e está muito distante do
reducionismo existencial que a precificação humana alcançou na
“pós-modernidade”.
Somos
todos meros produtos na cadeia produtiva, servindo-se uns dos outros?
Pensar sobre o perdimento do homem me fez parar e refletir se, também
eu, ainda sei olhar.
Percebi
no correr das horas que, uma tarde de observação nos coloca na
contramão do percurso da corrida de inserção econômica. O ócio,
que delícia o ócio! Ele pode oferecer uma imensa diversidade de
contrastes. É possível reencontrar neste ambiente o olhar a muito
perdido.
O
reencontro é bárbaro, mas não é feito sem dor e nostalgia.
Algumas pessoas estão tão distantes dos outros e de si mesmas que
sequer concebem a ideia de parar, um minuto que seja, para olhar. As
poses, fotográficas ou não, mostram e revelam.
Ao
editar as fotos e repassar cada momento, tive a impressão que a
natureza parecia ter percebido que, naquele dia, alguém parou para,
de fato, olhar. Questionei naquele átimo de tempo se preciso de
todos àqueles sapatos no armário, roupas e acessórios.
Percebi
que descalça, suada de correr atrás de toda aquela energia, estava
uma alegria única e despida. Não há na nova era espaço para o
texto livre? Para românticos? Para os simples? – Perguntei-me.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente o texto... Penso que tb posso parar para olhar e admirar o belo na sua essência. Tb reflito sobre os exageros no meu armário... Sou tb assim meio romântica e meio louca rs... Parabéns, linda e talentosa Patrícia!
ResponderExcluirObrigada, Maria. Noto que há muitas de nos espalhadas por aí. Rs
ExcluirObrigada, Maria. Noto que há muitas de nos espalhadas por aí. Rs
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