Por
Patrícia Leite
As
velas sequer panejavam. As nuvens estavam imóveis e a água era um
espelho a refletir o pôr do
sol. Enquanto o céu se enchia de vermelho... O
silêncio se espalhava.
Por
um breve espaço de tempo, foi
possível ouvir o som da própria respiração. Mas
esta era tão cadenciada e calma que, em dado momento, não mais foi
possível ouvi-la.
O
vento parou por completo. E ela, que sempre tinha o vento por
companhia, se viu só. Apoitou-se naquele estado de ensimesmamento que não
requer a presença
de
ninguém. Deitou-se
no cockpit
do
barco e
simplesmente
relaxou
de suas pressas.
As
obrigações
estavam “aterradas”. As pessoas
estavam muito longe dali. Mas
ela
pôde
senti-las
em seus
lugares
densamente ocupados de
tarefas cotidianas. O corre-corre, o trânsito, o ritmo frenético.
Cenas
da urbanidade contrastadas
com sua paz
interior
formaram
um turbilhão de
frenesis que “catarsearam”
obviedades
e
que
puseram
a
correr
em
suas veias
percepções
múltiplas
a
jorrar vicissitudes.
Deu
de ombros...Estava
entregue...
E
foi exatamente naquele estado
de libertação psíquica que
se deu conta
de que sentimentos
precisam de algo novo que os
transforme.
Tatear
a solidão foi
uma experiência prazerosa.
Deu-se
conta de que estava no melhor momento da sua vida. Tinha absoluto
controle da desconexão temporária das obrigações e necessidades
mundanas como trabalhar, comer, dormir, vestir...
Encarnada no seu crescimento como indivíduo iniciou um processo de separação do físico e deixou o espírito vagar saudável. Revisitou-se. Esteve consigo por longo tempo e submergiu na pura alegria de viver suas muitas vidas e seus muitos personagens.
De fato, deu-se conta, que sem a força motriz e tolhida da escolha de ir ou ficar parada... Encontrou-se.
Se não tivesse sido forçada a estar sozinha durante um período não poderia jamais ela experienciar o enriquecedor prazer de se encontrar tranquilamente com seu processo de mudança e crescimento.
Uma lufada encheu repentinamente as velas e tudo começou a se mover novamente. Estava de volta a realidade. Mas despertou daquele estado de “transe” absolutamente modificada.
Com ou sem estímulos externos, por opção, faria aquilo mais vezes. Estava decidido. Dali em diante, pararia para um encontro íntimo consigo mesma com regular frequência. Era um prazer enorme estar em sua própria companhia. Havia visitado o seu próprio estrangeiro...
Sim, agora, ela estava pronta para estar com o outro além de si mesma e fazer entregas verdadeiras.
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